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Zatoichi

Zatoichi, personagem fictícia que representa um massagista cego com dotes de espadachim e que deambula pelo Japão às custas do dinheiro ganho em jogos de azar, foi personagem principal em variados filmes japoneses desde os anos 60 até aos anos 80.

Espectadores japoneses certamente reconhecerão de imediato o nome Zatoichi, tanto como nós, ocidentais, reconhecemos o nome James Bond, dado a similar proporção de filmes de acção (26) onde o massagista samurai é personagem principal. Shintaro Katsu foi escolhido para representar Zatoichi em todos estes 26 filmes e 4 temporadas televisivas, tendo mesmo a honra de ter sido realizador do último filme Zatoichi onde participa, em 1989.


Ao longo de todos estes filmes, o nome Zatoichi interligou-se inevitavelmente com o perfil e silhueta fornecidos por Shintaro Katsu. A saga de Zatoichi sofre uma pausa, após o último filme. Shintaro Katsu morre em 1997, e consigo morrem também muitas das esperanças da continuação desta saga.

Em 2003, Takeshi Kitano recuperou a saga com a sua realização do filme chamado simplesmente Zatoichi. Takeshi Kitano já é conhecido entre nós, japonófilos, como protagonista de vários filmes e programas televisivos: Battle Royal, Jonnhy Mnemonic e o nostálgico para muitos de nós, Nunca Digas Banzai.

Neste filme, Takeshi ocupa-se da actuação da personagem principal, que procura liberar uma aldeia do domínio abusivo do gang de lorde Ginzo (Ittoku Kishibe). Paralelamente, um samurai “ronin” de nome Genosuke Hattori (Tadanobu Asano, actor que também protagoniza Kakihara no filme ‘Ichi, the Killer’), procura trabalho para pagar os medicamentos da sua esposa doente e é contratado pelo lorde Ginzo como guarda-costas. Os destinos dos dois samurais errantes convergem num clímax inevitável.


Neste filme podemos contar com algumas cenas cómicas, momentos harmoniosos (sem destoar a natureza violenta do filme) e efeitos especiais que, de acordo com o realizador, foram feitos de forma a propositadamente parecerem irreais ao espectador, para que elementos como sangue e o esquartejamento sejam antes retratados como mera arte e não como violência gratuita.

Também podemos encontrar um retrato do período Edo do Japão, onde lordes ditam leis em aldeias remotas conforme sua vontade; geishas dão os seus espectáculos privados aos abastados e tascas japonesas servem de pontos de encontro a várias personagens.


Apesar de ser uma recuperação de uma saga já antiga, Zatoichi de Takeshi Kitano consegue dar bom-nome ao franchise e reunir vários elementos comuns nos filmes do século anterior com a tecnologia contemporânea disponível em 2003, sendo a “cereja no topo do bolo”, um toque muito pessoal na realização do filme pelo próprio Takeshi Kitano. Segundo as próprias palavras de Takeshi, este filme resultou numa das experiências mais artisticamente e criativamente gratificantes da sua carreira.

Os fãs de filmes de acção irão adorar, se não forem muito picuinhas nos efeitos especiais usados para retratar a violência. Se gostou de Kill Bill, as probabilidades de gostar deste filme são muito grandes.

Autor: Sérgio Henriques

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