Quando se fala no Oceanário de Lisboa a primeira coisa que nos vem à cabeça são os gigantes aquários repletos de pequenos peixes e os espaços abertos com pinguins e aves marinhas. No entanto, escondida, existe uma pequena área dedicada a exposições mais pequenas e temporárias.
Na passada semana tive a oportunidade de visitar o oceanário e eis que esse espaço me chamou a atenção. No cartaz lê-se “Florestas Submersas” por Takashi Amano. O meu amor pela cultura japonesa levou-me então a entrar neste espaço e o que lá encontrei é de facto uma das exposições mais maravilhosas que já tive o prazer de visitar.
Takashi Amano, mestre aquascaper que infelizmente faleceu em Agosto do ano passado aos 61 anos, começou a sua carreira por volta de 1975 como fotógrafo paisagístico. Ao longo da sua vida visitou quase todas as florestas tropicais incluindo a Amazónia, o Bornéu, e a África Ocidental. Amano procurava especialmente locais que ainda não tivessem sido “tocados” pelo Homem.
Em 1982, a paixão pela natureza e pela necessidade de a proteger levou-o a criar a Aqua Design Amano, uma empresa de design de aquários artificiais inspirados no conceito Wabi-Sabi, um estilo estético tradicional japonês que define a beleza como impermanente, imperfeita e incompleta. Ora, a natureza é de longe um dos objetos mais imperfeitos do nosso planeta, encontrando-se em constante mutação.
Os aquários de Amano nascem então para imitar a aparência natural dos habitats aquáticos do planeta. Entre os elementos que ele usa para a construção dos aquários estão plantas de água doce como a Glossostigma Elatinoides e a Riccia Fluitans, e para controlar a sua população o artista usa os Camarões Amano! Sim, a sua longa pesquisa do mundo aquático permitiu-lhe não apenas criar verdadeiras obras de arte mas também ajudar na compreensão desse mesmo mundo, incluindo descobrir que os Caridina Multidentata (Camarão Yamato, Camarão Japonês, ou Camarão de Algas) comem muito mais algas do que aquilo que se pensava. Como homenagem, o camarão é agora conhecido como Camarão Amano, e pode ser visto em todo o aquário, mexendo os seus pequenos membros freneticamente enquanto procura nutrientes na areia.
Em 1994, Takashi Amano lança o “Nature Aquarium World”, uma série de três livros sobre técnicas de decoração aquática, e três anos depois lança o “Aquarium Plant Paradise”. Para além dos livros, o autor escreveu ainda artigos para a revista inglesa Pratical Fishkeeping e para a revista americana Tropical Fish Hobbyist.
A primeira exposição acontece apenas em 1998 no Fuji Photo Saion de Tokyo e a sua mais recente exposição foi montada em Portugal no início de 2015. Infelizmente esta seria a última exposição que Amano organizaria, motivo pelo qual peço a quem possa que a vá visitar, pois não se arrependerá.
Assim que entramos no espaço deparamo-nos com um tanque de 40m de comprimento, em formato de U, construído com 78 troncos de árvores da Escócia e da Malásia, 25 toneladas de rocha vulcânica dos Açores, 86 espécies de plantas aquáticas e peixes tropicais, e 4 toneladas de areia, fazendo dele o maior aquário natural do mundo!
O ambiente é inundado pela brilhante música de Rodrigo Leão, uma mistura de piano, instrumentos de cordas e lá no fundo elementos de água a correr e a cair. Pessoalmente, a música suscita uma mistura de melancolia (como se estivesse perante algo prestes a desaparecer do qual tenho de me despedir) com um breve raio de esperança. Uma junção que não podia ser mais perfeita.
“Florestas Submersas”, criada com um intuito de ser uma exposição, transforma-se rapidamente num lugar de relaxamento e reflexão, onde podemos ficar vários minutos a admirar a beleza zen do local. E no aquário a vida passa despercebida. Os pequenos peixes, alheios ao mundo exterior, vivem pacificamente em harmonia passeando pelas plantas ou pelos troncos que lhes servem de abrigo.
Do outro lado do aquário podem ainda ver dois vídeos: “Making of Florestas Submersas by Takashi Amano” (realizado por Anze Persin), e uma entrevista ao mestre. Ambos os vídeos podem ser vistos no canal Youtube do Oceanário.
É interessante que para quem não conhece Takashi Amano, as suas mensagens são a forma como concluímos, com pesar, a nossa visita.
Apesar da artificialidade do aquário, Takashi Amano diz durante a sua entrevista: “Não crio um mundo a partir da minha imaginação. Quer dizer, eu interpreto o que observei na natureza tal como ficou registado na minha memória, para além de a ter fotografado. (…) Por isso, a filosofia de base de todas as minhas criações é apreender a natureza para poder recriá-la. Na Natureza pode ter havido uma tempestade ou dias de muito sol. Esses eventos criam uma determinada paisagem ao fim de algum tempo. Mas eu não posso demorar 10 ou 100 anos como a natureza faz. Por isso, o que faço é reduzir o tempo, enrolando, por exemplo, o musgo num tronco e plantando depois os fetos. (…) No fundo é uma encenação. Mostro num único instante, uma paisagem que demoraria anos a criar”.
No final, as obras vivas de Takashi Amano servem para nos lembrar da beleza da natureza, e da necessidade de a protegermos antes que desapareça para sempre: “Neste momento, assistimos à destruição do planeta. A natureza está em declínio. E na minha perspectiva, os sistemas de água doce são os mais ameaçados. As plantas aquáticas são muito delicadas e mesmo índices baixos de poluição são uma ameaça para estes organismos”.
A exposição ainda não tem data para ser substituída mas já tendo completado um ano, aconselho a visistarem o mais depressa possível. Os bilhetes podem ser adquiridos online, através da Blueticket, facilitando a entrada no espaço. Os preços são 11€ para jovens entre os 4 – 12 anos e para adultos com mais de 65 anos, e 17€ para as pessoas entre os 17 – 64 anos. Crianças até aos 3 anos têm entrada gratuita.
Se estiverem curiosos podem ver mais fotografias da exposição na nossa Página Facebook!
Escrito por: Ângela Costa (@angelaookami)
Fotografias da Exposição: Ângela Costa