Dando por terminada a época do Ano Novo no Japão, começam-se a remover as decorações que foram utilizadas. No entanto, estas não voltam a ser guardadas e muito menos podem ser deitadas fora, sendo que a maioria é queimada durante um festival específico.
O Dondoyaki (どんど焼き), por vezes também chamado de Otakiage ou Sagichou, é um festival que ocorre anualmente por volta de dia 15 de Janeiro (podendo variar de região para região), durante o qual se realiza a queima de amuletos de sorte e das decorações usadas para o Ano Novo (Oshougatsu) num fogo sagrado. Decorações tais como o kadomatsu, a shimekazari e as kumade são consideradas sagradas por alojarem o Toshigami (Deus do Ano Novo) durante esse período, por isso seria desrespeitoso reutilizá-los no próximo ano ou simplesmente deitá-los fora. Ao se queimarem estes objetos, acredita-se que se está a apaziguar o espírito do Toshigami e a libertá-lo de volta para os céus.
A fogueira do festival (feita de pinheiro, cedro-japonês e palha) costuma ser feita num santuário xintoísta ou num terreno vazio junto a este, sendo por vezes também realizada junto a um rio.
Antes de a fogueira sagrada (jouka) ser acesa, os sacerdotes xintoístas (kannushi) fazem uma oferenda e dizem uma oração de agradecimento pelo ano que passou e pela proteção garantida, rogando ainda por saúde e felicidade para o novo ano.
Para além das decorações do ano novo, também é bastante comum serem queimados bonecos daruma e kakizome, os manuscritos da primeira caligrafia do ano. Acredita-se que caso o papel do kakizome voe alto enquanto queima isso é um sinal de que a pessoa que o escreveu irá melhor a sua caligrafia.
Os amuletos de boa sorte (omamori) são também queimados durante o Dondoyaki, pois acredita-se que só têm efeito durante um ano e que ao queimá-los durante o Dondoyaki se afasta a má sorte que cada um “absorveu” durante o ano que passou. É comum as pessoas entregarem os omamori de volta ao templo onde os compraram para que o templo se desfaça destes respeitosamente. Para quem não pode deslocar-se até aos santuários para o Dondoyaki, existe também a possibilidade de enviar os omamori por correio de volta para o santuário. Outras formas de amuleto, como as sinas omikuji, as placas votivas ema e as flechas hamaya são igualmente queimadas nas grandes fogueiras.
Sendo os Japoneses particularmente cuidadosos com questões de segurança pública, os bombeiros locais estão sempre presentes e atentos ao longo de todo o festival, e não só controlam e asseguram a segurança enquanto a fogueira arde como também no final de tudo certificam-se de que o fogo ficou apagado por completo, não correndo riscos com o vento forte típico do inverno.
Depois de a fogueira ter sido queimada e aproveitando ainda as brasas desta, é costume assar-se mochi e laranjas amargas daidai.
Segundo a tradição, acredita-se que comer mochi assado no fogo sagrado do Dondoyaki garante boa saúde durante todo o ano que se segue. Visto ser perigoso aproximarem-se das chamas, é costume usar canas de bambu e ramos longos para servirem como espetada para poder assar a comida a partir de uma distância segura.
Para além do mochi, o santuário (ou a comunidade que ajudou a organizar o Dondoyaki), oferece ainda amazake, um sake doce, muitas vezes disponibilizando também uma versão não alcoólica para as crianças. Em certos festivais é oferecida também oshiruko (uma sopa doce com feijão azuki), peixe grelhado e variados doces e especialidades.
Escrito por: Joana Ramalho