Chegou a Portugal para trabalhar por uma temporada com Siza Vieira, mas rapidamente apaixonou-se pelo nosso país, pela nossa simpatia e foi ficando por cá. Já lá vão 7 anos.
O ClubOtaku esteve à conversa com Ren Ito para conhecermos um pouco melhor este arquitecto que decidiu trocar o país do Sol Nascente pelo país à beira-mar plantado.
Como veio parar ao Porto (a Portugal) e há quanto tempo está cá?
No início do meu percurso profissional em Portugal, colaborei durante 7 anos com o Arq. Siza Vieira e depois começaram a aparecer projectos para fazer e abri o meu gabinete cá no Porto.
Antes de vir para Portugal já tinha ouvido falar do Porto?
Sim, uma das minhas melhores amigas no Japão era portuguesa, do Porto.
O que acha do povo português comparativamente ao povo japonês, são povos compatíveis?
Acho que há características opostas e similares. Se calhar porque Portugal e Japão estão de lados opostos do super continente Eurásia, ambos nos extremos dos continentes.
O que mais lhe surpreendeu em Portugal e nos portugueses, pela positiva e pela negativa?
Pela positiva, são muito simpáticos. Pela negativa, são invisíveis.
Porque escolheu a arquitectura para profissão e como vê a arquitectura actualmente em Portugal e no Japão?
Porque desde sempre gostei muito de criar algo e a arquitectura é a integração das minhas várias criações.
Considera que um arquitecto português se integraria facilmente num gabinete de arquitectura japonês? Os métodos de trabalho de arquitectura são semelhantes nos dois países?
Sei que há arquitectos portugueses que estão a trabalhar no Japão e que estão a fazer um bom trabalho. Os métodos e condições de trabalho são muito diferentes nos dois países. No Japão, trabalhamos muitas horas e se não conseguirmos ler os caracteres chineses, não podemos trabalhar em projectos, no Japão.
Existe algum conhecimento da arquitectura portuguesa no Japão, para além de Álvaro Siza Vieira e Eduardo Souto de Moura?
Sim, acho que o Arq. Carrilho da Graça e o Arq. Aires Mateus são conhecidos no Japão.
Sendo actualmente o Japão reconhecido internacionalmente, pela sua arquitectura inovadora e audaz, mas também pela cuidada preservação do património secular, pensa que “o modo de pensar a arquitectura” japonês tem vindo a ser incorporada pelos arquitectos ocidentais?
Desculpe mas não percebo o que é “incorporada pelos arquitectos ocidentais”?
O japonês Toyo Ito foi distinguido com o Prémio Pritzker de Arquitetura 2013 por uma obra “que combina inovação conceptual com edifícios sobriamente executados”, afirmou o júri que foi presidido por Lorde Peter Palumbo. O júri destacou ainda a arquitectura “excepcional” de Ito e a sua “dimensão espiritual e poética que transcende todas as suas obras”. Como é que a dimensão espiritual e até religiosa, pode influenciar positivamente o acto de “criar” edifícios?
Acho que a inovação é o descobrimento da essência num contexto. Assim é essencial aprofundar a experiência, por isso julgo que a espiritualidade influência a criação.
Considera que a ligação intensa com a natureza ainda está presente na arquitectura japonesa de hoje, ou tem vindo a ser substituída pela ligação com a tecnologia?
Acho que ambos os aspectos existem na arquitectura japonesa. Mas também há mais variedade. A natureza ou a tecnologia da arquitectura do Japão são mais faladas no mundo ocidental, porque isso é o que as pessoas esperam dela.
Acha que o Japão absorve as mais modernas tendências, desconstrói-as e modifica-as, inovando-as e melhorando-as, tornando-as assim, suas e muito próprias, ou por outro lado, tem uma visão “out of the box”, inventa as suas tendências e está um passo à frente das invenções ocidentais?
Desculpe, mas não entendo a pergunta.
O que acha de Tóquio, pessoalmente como cidadão e profissionalmente como arquitecto – a liberdade dentro da densidade ou a ordem dentro do caos?
Acho que Tóquio é um bom sítio para experimentar a nossa criação. Mas é difícil manter a tranquilidade da nossa própria mente em Tóquio.
Se tivesse de convencer alguém a mudar-se para o Japão, que argumentos daria?
O Japão é um país único. Se quiserem sair do vosso próprio domínio mental, vão ao Japão. Vão descobrir o que é “normal”.
Entrevista por: Rita Ferreira
Luís A
Muito interessante a entrevista assim com o testemunho do arquiteto!