No ano de 1944, um pouco depois do fim da 2ª Guerra Mundial, uma antropóloga da Universidade de Colombia nos Estados Unidos, chamada Ruth Benedict levava a cabo um trabalho muito especial: estava a escrever um ensaio que permitia entender de um prisma ocidentalizado o comportamento japonês. Uns anos depois aquele mesmo ensaio se converteu num conhecido livro fundamental para toda aquele que deseja conhecer o espírito japonês – “A Espada e o Crisantemo”.
Mediante as duas palavras que compoêm o título desta obra a autora tentava expressar de uma forma metafórica duas maneiras na forma de pensar – o estoicicismo e a sensibilidade, a cortesia e a intolorância – partindo dos conceitos muito representativos da cultura japonesa.
No caso da espada corresponde a um artigo tradicional que interessa ao colecionador de armas como ao mercado de peças ornamentais. Esta tendência é generalizada no Japão e alastrou ao resto do mundo, ao ponto que a sua fabricação ter sido em grandes quantidades ou mesmo em série. É assim mais que provável que muitas destas espadas tenham uma antiguidade significativa – anterior à Era Meijin – para um colecionador sem que elas tenham sido fabricadas em solo japonês. Muitas destas espadas procediam de lugares tão distantes como Alemanha ou Espanha, tendo sido criadas, sob a supervisão de um mestre na fabricação de espadas japonesas.
Ao falarmos destas peças clássicas fabricadas artesanalmente por mestres espadeiros anteriores ao séc. XIX, temos que falar no processo de criação da lâmina que supõe um exercício de técnica e dedicação realmente meritória. Tal era a especialização que a feitura da lâmina exigia que, geralmente, o mestre se dedicava unicamente à forja e ao “tempo da lâmina”, deixando para os outros artesãos, elementos como a Tsuba, a decoração, etc…
Para criar uma lâmina com o peso e densidade adequados, era preciso golpear e alisar o aço, bater-lhe sobre si mesmo e repetir o dito processo sucessivas vezes até alcançar os objectivos desejados. Calcula-se que o número de golpes necessários para começarmos a considerar uma lâmina como sendo de qualidade é de 32.500 vezes. É possível apreciar o aço da espada colocando-a em direcção a um foco de luz e enclinar uns graus e observar a sua superfície.
O desenho de uma lâmina japonesa é característica: forte no fio e mais flexível no corpo, com fim de proporcionar uma melhor elasticidade à espada. Logo à promeira vista as diferenças com as espadas ocidentais são evidentes, um dos aspectos é o desenho recto em comparação com o “curvo” das espadas japonesas. A razão para este facto é que a arma japonesa estava ou foi desenhada para cortar e não para atravessar – a curvatura favorece a circulação de are impede que a espada entre pelo corpo.
Uma vez finalizado o trabalho finalizada a fabricação da espada, incia-se o turno da “experimentação” da espada. Este trabalho é tão importante como o do “espadeiro”, a tal ponto que acabado o teste, num lugar escondido do resto das pessoas, tanto o criador como o utilizador da espada falavam caso necessário algumas modificações.
Para validar a espada era preciso efectuar uma série de golpes exactos sobre determinados pontos de um espantalho criado para tal fim. Como data macabra, durante a época Tokugawa a prova das espadas chegaram-se a realizar utilizando corpos de cadáveres – é preciso dizer-se que este método abandonou-se faz muito tempo, pese embora a sua fiabilidade dos factos.
Visto que para a fabricação destas armas formidáveis requeriam muito trabalho, é fácil explicar que um grande mestre nunca criava mais do que 100 espadas em toda a sua vida. Como consequência, as boas peças escasseiam e são consideradas autênticos objectos de culto pelos coleccionistas e não só. Por surpreendente que nos pareça, aquelas lâminas de melhor qualidade são de pertença de museus ou colecções particulares, e são mantidas em suportes sem se estragarem com o resto dos elementos da espada, para que se possam apreciar em toda a sua perfeição. O seu preço é simplesmente incalculável.
Como dado curioso, de entre as peças mais cotadas encontram-se as de um fabricante com um nome conhecido para os amantes do anime/manga: Masamune Shirow. O autor de Ghost In The Shell escolheu este nome como pseudónimo que melhor poderia definir um artista, um homem equiparado aos outros mestres artesãos da categoria de Stradivarius.
Os tipos de espadas existentes são variados. A mais conhecida, a Katana, é a clássica espada japonesa. Também conhecida temos a Wakizashi, que cortava mais que a katana, e era utilizada como espada auxiliar. Juntas formavam o que se chama de Daisho (grande-pequena), só a classe samurai é que tinha o privilégio de usar esta combinação de espadas.
Mais largo que a Katana é o sabre, o Tachi, uma arma mais antiga, mais sólida e larga que a Katana; outra arma também conhecida é o Tanto, arma de pequeno tamanho que se encontra entre o punhal e a espada curta. Ainda existem outras espadas menos conhecidas ou utilizadas, como por exemplo, a NAGINATA, de longitude superior a do tachi, o HAMIDASHI, um punhal de pequeno tamanho, e o Ko-GATANA ou estilete, entre outras.
Para concluir, e dificil de falar de espadas sem fazer uma rápida menção ao KENDO, o desporto de esgrima japonesa, cuja fama no Japão é tão grande que existe desde o colégio e onde existe uma grande quantidade de praticantes. Desporto de origem bélica, foi codificado e regulamentado durante o período EDO.
Basicamente, existem quatro golpes que se “avisam” mediante gritos. O uniforme para a pratica do kendo é bastante complicado, ele se compõe de keikogi ou camiza cruzada, as calças ou hakama, desenhado de forma largo para não se notar o movimento das pernas e a característica mascara protectora, a men, que é acompanhada pela do, colete para cobrir a caixa tóraxica. O conjunto se completa com umas resistentes luvas e o tare, o protector dos rins e baixo torax. Finalmente, o equipamento completo termina com o shinai, o sabre de madeira substituido pelo original de aço.
Escrito por Ricardo López
traduzido por ClubOtaku