Após vários anos a adiar a leitura deste livro, acabei por o ler em Janeiro. Num momento em que infelizmente a maior parte da população mundial tem os seus movimentos bastante restringidos, é sem dúvida uma leitura recomendada para todos aqueles que gostam de corrida e não só.
Comecei a correr há cerca de sete anos. O que começou por ser apenas um desafio para tentar ter um estilo de vida mais saudável, acabou por se tornar num vício que tento praticar quase diariamente. Correr para alguns é como uma actividade de meditação, e embora não corra as mesmas distâncias e participe no tipo de provas que Haruki Murakami (村上春樹) participa, sem dúvida que me identifiquei com várias coisas que o autor japonês relata neste livro.
Em Hashiru Koto ni Tsuite Kataru Toki ni Boku no Kataru Koto (走ることについて語るときに僕の語ること), Murakami partilha a história e relação íntima que tem com a corrida. Tendo começado a correr quando decidiu dedicar-se unicamente à escrita, já completou um grande número de maratonas, ultra-maratonas e também participou em alguns triatlos. Neste livro, Murakami partilha as sensações e emoções que sente ao correr, a música que o motiva, a relação directa com a sua escrita e o peso físico que esta actividade tem no seu corpo após tantos anos a praticá-la.
Abordando primeiro o livro pela perspectiva de alguém que gosta de correr, a verdade é que, tal como o autor descreve no livro, correr pode ser uma actividade quase masoquista, onde na maior parte das vezes o nosso maior adversário somos nós mesmos.
Murakami relata a experiência de correr de forma sublime através da descrição extremamente pormenorizada das maratonas em que participou, descrevendo a dor física que sentiu ao longo dos quilómetros, as pessoas caricatas que encontrou pelo caminho e o extremo esforço mental que fez em algumas destas corridas. E claro, também partilha o sentimento de frustração que sentiu quando as coisas não correram como planeadas.
Como Murakami descreve no livro, ninguém que não goste de correr se deve forçar a correr. Isso não quer dizer que a obra deixe de ser interessante para aqueles que não têm qualquer interesse nesta actividade física. Hashiru Koto ni Tsuite Kataru Toki ni Boku no Kataru Koto, mais que um relato sobre este desporto, é de certa forma um livro de auto-ajuda que o mesmo escreveu, confessando que a sua relação com a corrida o tornou um melhor escritor e o ajudou a ultrapassar alguns problemas pessoais e profissionais.
Hashiru Koto ni Tsuite Kataru Toki ni Boku no Kataru Koto foi um livro que gostei bastante. Conhecendo apenas as obras de ficção de Haruki Murakami, este livro rapidamente se tornou num dos meus favoritos do autor japonês. Numa altura em que tantas provas de corrida foram canceladas e as pessoas se sentem “presas de movimento”, este não é só um excelente livro sobre corrida, é também uma obra que me faz ter esperança por melhores tempos no futuro.
Nem toda a gente pode querer correr após ler este livro, mas provavelmente irão encontrar algo nele que os ajudará a adaptar a experiência de Murakami à sua própria vida.
Escrito por: Nuno Rocha