Katsushika Hokusai nasceu em 1760, em Edo, sendo aparentemente filho de um artesão. Hokusai é um dos grandes mestres da gravura japonesas, e um dos grandes génios criadores e inovadores de todos os tempos.
Sendo o mais célebre dos artistas japoneses, e tendo tido uma profunda influência na arte ocidental, nomeadamente no movimento impressionista, ele é, porém, pouco japonês no seu caracter e na sua obra, em particular pela importância que teve na sua obra a influência daqueles poucos aspectos da arte europeia conhecidos então no Japão. A obra de Hokusai estende-se ao longo de um período notavelmente longo, e, caracteristicamente, atingiu o seu auge já no final da longa vida do artista.
Tendo iniciado aos catorze anos a aprendizagem como gravador, entrou, aos dezoito anos, no estúdio de Katsukawa Shunsho, importante autor de gravuras Kabuki. No início do ano seguinte, publicou os seus primeiros trabalhos, gravuras de actores, sob o nome Shunro.
Hokusai produziu notáveis gravuras durante a década de 1780, influenciado por Shigemasa e Kiyonaga, mas os seus primeiros trabalhos importantes foram efectuados, sob o nome Kako em meados da década seguinte. Em 1797 adoptou o nome Hokusai, e iniciou o seu primeiro período importante de produção de gravuras e livros.
Hokusai foi atraído por influências artísticas das mais diversas, que incluem a arte ocidental, que começava então a ser divulgada a partir do entreposto de Nagasaki, e chinesa. Estas influências tornam-no um artista cujo estilo se afasta do habitual Ukiyo-e, ao mesmo tempo que alarga a sua universalidade.
As suas maiores produções são os conjuntos de imagens de “Lugares Famosos de Edo”, em 1800, os quinze livros de esboços publicados sob o título genérico de Manga a partir de 1814, e as duas séries de vistas do Monte Fuji, as “36 vistas do Monte Fuji” do início da década de 1830, e os três volumes das “Cem vistas do Monte Fuji”, de 1834-35.
A energia de Hokusai era prodigiosa e a ele se deve, em grande parte, o estabelecimento da gravura paisagística e da gravura de flores e pássaros (kacho-e) como géneros autónomos e até mesmo dominantes das gravuras Ukiyo-e. A capacidade criativa de Hokusai está intimamente ligada à sua irrequietude, bem diferente do usual no Japão, e que pode ser ilustrada pelo impressionante número de nomes que utilizou ao longo da sua carreira (vinte seis) e pelo número de diferentes moradas que conheceu durante a vida (noventa e três). É esta inquietação permanente que fazem dele uma figura ímpar na história da arte universal, e da gravura japonesa, em particular.
Já com setenta e cinco anos de idade, Hokusai resumiu assim, no prefácio às “Cem Vistas do Monte Fuji”, a sua vida e o seu programa para o futuro: “Desde os cinco anos de idade que tive a mania de desenhar a forma das coisas. Desde os cinquenta anos de idade que produzi um número razoável de desenhos, mas, no entanto, tudo o que fiz até aos setenta anos não é realmente digno de menção.
Pelos setenta e dois anos de idade apreendi finalmente algo da verdadeira qualidade das aves, animais, insectos e peixes, e da natureza vital das plantas e árvores. Assim, aos oitenta anos de idade deverei ter já feito algum progresso, aos noventa deverei ter penetrado ainda mais no mais fundo sentido das coisas, aos cem anos de idade deverei ter-me tornado realmente maravilhoso, e aos cento e dez anos, cada ponto, cada linha que eu desenhe deverá possuir seguramente uma vida própria. Peço apenas que os homens de vida suficientemente longa tenham o cuidado de verificar a verdade das minhas palavras.”
Autor:Manuel Paias