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Kanjincho

Kanjincho faz parte do Kabuki Juhachi ban, a lista de 18 peças favoritas escolhidas por Ichikawa Danjuro VII. A acção passa-se no período Kamakura (1185 – 1333), na barreira de Ataka em Kaga (prefeitura de Ishikawa), e apresenta-nos Minamoto Yoshitsune (1159-1189), em fuga do seu irmão Minamoto no Yoritomo, e o pequeno grupo dos seus seguidores, um dos quais em Benkei, a personagem principal . Esta peça é representada num palco muito simples, com pinheiros como cenário.

A peça caracteriza-se pela representação pomposa e exagerada ao estilo aragoto, bem exemplificada pelo personagem de Benkei, especialmente quando sai do palco com o seu estilo Tobi roppoh (passo voador) usando a hanamichi (ponte que dá acesso ao palco) criando uma onda de excitação na audiência.

No entanto a peça tem outros pontos fortes para além desta representação pomposa. A elegância e afabilidade de Yoshitsune, o vigor e a esperteza de Benkei, bem como a compaixão mostrada por Togashi, são qualidades exaltadas na peça.

O enredo

Togachi Saemon aparece, acompanhado pelos seus homens, e anuncia ser o responsável pela barreira. Dirigindo-se aos seus homens exorta-os à vigilância, por forma a interceptarem Yoshitsune, que se crê estar em fuga para norte, acompanhado pelo seu grupo, disfarçado de sacerdote. Enquanto os músicos entoam uma canção Yoshitsune entra em cena, seguido de quatro vassalos, um dos quais Benkei. Está vestido de carregador, com um amplo chapéu de palha, e transporta uma carga às costas.

Quando o grupo chega à barreira Benkei, que tinha sido sacerdote, pede passagem dizendo aos guardas serem um grupo de padres que tinha sido enviado para fazer as províncias do Norte para efectuar uma colecta de fundos para a restauração do Templo Todaiji, em Nara. A isto Togashi replica que o grupo só poderá passar se conseguir provar serem de facto sacerdotes.

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Togashi pergunta a Benkei, uma vez que ele diz estarem a efectuar uma colecta, onde está a kanjincho ou lista de contribuintes. Benkei é apanhado de surpresa por esta pergunta, e a sua confusão confirma as suspeitas de Togashi. Benkei dirige-se à parte traseira do palco e volta com um rolo em branco, que desenrola e começa a ler em voz alta.

Togashi avança na sua direcção e, subitamente, espreita o rolo de papel, vendo assim que este não está escrito. No entanto, e apesar de perceber que se trata de uma artimanha, nada diz, impressionado pela desenvoltura e coragem de Benkei. Assim, coloca-lhe algumas perguntas sobre a actividade de sacerdote e sobre alguns termos budistas de maior complexidade, perguntas a que Benkei responde correctamente.

Impressionado pelos conhecimentos demonstrados por Benkei, Togashi resolve deixar passar o grupo, declarando-se satisfeito com as respostas. Agradece a Benkei ter-lhe dado a oportunidade de esclarecer algumas dúvidas sobre o budismo e pede para efectuar a sua própria contribuição para o fundo.

Porém, quando o grupo está mesmo quase a passar a barreira, um dos guardas de Togashi chama a atenção deste para o carregador do grupo, dizendo que este se parece com Yoshitsune. Trata-se de um alerta que Togashi não pode ignorar. Benkei tenta, em vão, convencê-lo que o carregador não é Yoshitsune. Por fim, em desespero de causa, Benkei finge estar furioso e começa a espancar Yoshitsune, culpando-o pelas suspeitas de Togashi, e convidando a este a prendê-lo.

Togashi está certo que o carregador é Yoshitsune, mas no entanto, ao ver Benkei a espancar o seu senhor, compreende quão difícil tal acção deve ser para um vassalo leal. Quando Benkei se oferece para espancar o carregador até à morte, se tal for necessário para dissipar as suspeitas de Togashi, este pede-lhe que pare e deixa-os passar.

Uma vez fora da vista dos guardas Yoshitsune agradece a Benkei ter-lhe salvo a vida, enquando os outros vassalos do grupo gabam a coragem de Benkei. Este porém, pede profusamente desculpa por ter espancado o seu mestre, dizendo que preferiria morrer a ter de o fazer e acabando por chorar pela primeira vez na sua vida.
Autor:Manuel Paias

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