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Kenzaburo Oe

Kenzaburo Oe nasceu a 31 de Janeiro de 1935, na ilha de Shikoku, a ilha a sul de Honshu. Entrou para a Universidade de Tóquio aos dezoito anos, especializando-se em literatura francesa e dedicando-se a dissertações literárias sobre Jean-Paul Sartre. Enquanto estudante publicou artigos com análises literárias e pequenos contos em jornais e revistas. Casou-se em 1960 com a irmã de um conhecido realizador japonês (Juzo Itami).

O autor ficou mundialmente célebre a partir de 1994 com a atribuição do tão aclamado e mediático Nobel da Literatura, mas antes de tão conceituada consagração, as suas visões pacifistas relativas ao artigo 9 da constituição japonesa de 1947 (no qual o Japão é obrigado a renunciar ao mantimento de força militar para fins de disputa internacional), já causavam alguma polémica.

A temática relativa ao processo de constitucionalização do Japão é algo que o inspira e promove a reflexão e isso é visível em alguns trabalhos sobretudo do início da década de sessenta nos quais Oe utiliza metáforas de teor explicitamente sexual para caracterizar a posição submissa do Japão perante a potência que representaram os EUA, através da qual o Japão é um amante que se deixa violar, sem personalidade ou densidade psicológica, traindo na contemporaneidade os valores ancestrais do país. Este conteúdo é visível em contos como 性的人間 “O homem do sexo”, 空の怪物アグイー “Aguii, o monstro do céu”.

Hoje em dia o autor vive em Tóquio e tem três filhos sendo que o mais velho nasceu com graves perturbações cerebrais. Este factor biográfico vai interferir largamente no trabalho do autor. Dos livros editados em Portugal, dois dos livros são representativos da atitude activista que a partir daí o autor adoptou de perspectivar a experiência empírica de um deficiente e de sensibilizar a sociedade para as suas condições: Dias Tranquilos (Difel, 1995), Não matem o bebé (Civilização, 1994). Outro é Um Eco do Céu (Difel, 1997), de teor existencialista.

Sendo um dos autores mais emblemáticos da actualidade japonesa no mesmo leque de referências de Kawabata ou Mishima, não se compreende o porquê do reduzido número de traduções fora do Japão.

Numa altura em que o Japão atravessa uma metamorfose política relevante com a saída iminente do LDP (自由民主党, Jiyū-Minshutō) depois de quase meio século de predomínio, o Japão terá de repensar-se e reinventar-se politicamente.

Assim sendo, este deve ser considerado um dos mestres da expressão contemporânea japonesa que tenta analisar a actual condição política e social do Japão com a devida complexidade, apelando ao desvio da alienação e à reflexão crítica.

Escrito por: Sara F. Costa

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