Este livro chamou-me primeiro à atenção por ser um dos livros favoritos de infância de Hayao Miyazaki. Logo se levantaram algumas perguntas: até que ponto este livro influenciou a obra do mestre do cinema de animação japonês? Será que um livro escrito em 1937 não estaria já datado passados quase 100 anos?
A verdade é que mesmo com quase um século de existência, Kimi-tachi wa Dō Ikiru ka, escrito por Genzaburo Yoshino, ainda se mantém actual.
Junichi Honda é um estudante de 15 anos que tem a alcunha de Koperu (devido ao seu fascínio por Nicholas Copernicus). Orfão de pai, Koperu mora com a mãe e com o tio, tio este que serve como segundo pai e guia moral de Koperu.
O livro foca-se no dia-a-dia de Koperu: as suas relações na escola, as novas experiências que encontra na adolescência e o crescimento moral e filosófico do protagonista.
A estrutura de Kimi-tachi wa Dō Ikiru ka contrapõe a visão do mundo de um adolescente com a de um adulto. Os capítulos estão divididos entre o relato das experiências de Koperu e as notas dadas pelo seu tio, onde este analisa detalhadamente o relato de Koperu.
O personagem do tio não se assume como ultra sapiente e moralmente superior a Koperu, sendo bastante delicado na forma como analisa as situações e nunca impondo a sua opinião ao jovem sobrinho.
O filosofar sobre o sentido da vida e o lugar dos humanos neste planeta, o privilégio, as diferenças socioeconómicas entre colegas da mesma turma, o bullying e a lealdade para com os amigos são alguns dos temas abordados.
Os temas escolhidos continuam a ser bastante relevantes hoje em dia para qualquer jovem a entrar na idade adulta. Mesmo para um adulto, esta obra decerto irá levar a algumas reflexões sobre a sua juventude.
Não podendo eu opinar sobre a versão original, visto que li a tradução para inglês de Bruno Navasky, a linguagem utilizada é simples e fácil de entender mesmo quando aborda os temas mais complexos.
As diferenças subtis na forma de Koperu e do seu tio se expressarem fazem-nos realmente sentir que lemos a perspectiva de duas pessoas de idades diferentes, que falam de forma sincera e directa um com o outro.
Kimi-tachi wa Dō Ikiru ka é um livro que só tenho pena de não ter lido na minha adolescência, pois é sem dúvida uma obra filosófica que me fez reflectir sobre esses tempos.
Kimi-tachi wa Dō Ikiru ka, para além de já ter sido adaptado a manga (por Shoichi Haga), já tem também anunciada a sua adaptação a filme animado, que será realizado, felizmente, pelo grande Hayao Miyazaki.
Kimi-tachi wa Dō Ikiru ka será provavelmente a última obra de Hayao Miyazaki, cujo objectivo é adaptar esta bela obra ao cinema para dedicar ao seu neto. Esperemos que a versão animada do filme não desiluda e que ajude a que este livro chegue a ainda mais pessoas por todo o mundo.
Escrito por: Nuno Rocha