Antes de se tornar escritora, Kawakami Hiromi (川上弘美) estudou Ciências Naturais e foi professora de Biologia. O seu primeiro livro foi publicado em 1994 e desde essa altura lançou vários livros com alguma regularidade. Alguns dos seus livros publicados receberam os prémios literários mais conceituados no Japão, o que a tornou numa das escritoras japonesas mais lidas.
Em 2006, a autora publica Manazuru (真鶴) e continua o seu estilo de escrita explorando a ambiguidade emocional, descrevendo os detalhes íntimos das relações sociais quotidianas. Muitas das suas histórias incorporam elementos de fantasia e realismo mágico. Alguns críticos comparam a escrita de Kawakami com a de Banana Yoshimoto, e além disso em algumas entrevistas a autora já tinha divulgado alguns dos nomes que a influenciaram como foram os casos de Gabriel García Márquez e de J. G. Ballard.
Manazuru conta a historia de Kei, uma mulher que mora com a mãe e Momo, a sua filha adolescente. O seu marido desapareceu sem deixar vestígios há doze anos. Com o passar dos anos, ela encontra um amante, Seiji, um homem de negócios, casado e com filhos. No entanto, a presença do seu marido preenche toda a sua vida e os pensamentos mais íntimos. A única pista que Kei tem sobre o desaparecimento do seu marido é a palavra Manazuru, uma pequena cidade costeira na região de Kanto, na prefeitura de Kanagawa, com pouco mais de 8 mil habitantes.
Esta palavra que Rei deixou escrita no seu diário é o ponto de partida para várias viagens àquele local em busca de um significado e de uma explicação para o desaparecimento do seu marido. Não convém avançar mais na história para não estragar o suspense e o mistério da obra. Durante a leitura acompanharemos os passos de Kei e seremos também acompanhados por um fantasma, ou melhor, uma entidade extra-sensorial ou como quiserem-lhe chamar, que irá conviver com a nossa personagem principal em busca do seu marido.
Um dos pontos mais agradáveis do livro foi a forma como a autora intercalou as cenas do quotidiano com a atmosfera onírica e surrealista que vamos descobrindo ao longo da história. As descrições detalhadas de imagens, sons, sentimentos e cheiros experimentados pelo personagem principal são sempre escritos de uma forma poética. Atrevo mesmo a dizer que algumas partes do livro ficarão bem gravadas na minha memória durante bastante tempo.
Em suma, Manazuru é um livro íntimo e minimalista que explora as diferentes formas de amor presentes na vida de uma pessoa e a certeza da incerteza diante das acções e do conhecimento de nossos entes queridos que podem tornar-se estranhos aos nossos olhos. É um romance que nos conta a vida de uma forma poética.
Escrito por: Fernando Ferreira