Aos 15 anos, Naomi era uma discreta rapariga que trabalhava como recepcionista no Café Diamante. À primeira vista, parecia uma criança melancólica, de rosto pálido, quase transparente. Mas como nota o narrador, Joji, um engenheiro de 30 anos, havia algo de ocidentalizado na sua aparência e ela parecia-se mesmo com a estrela de cinema Mary Pickford.
O Japão dos anos vinte experimentava então uma crescente influência ocidental. Joji morava sozinho numa pensão, ganhava bem e tinha uma vida agradável. Incapaz de resistir à sensualidade de Naomi, concebeu o projecto de viver com ela, vendo-a crescer, levando uma vida divertida e talvez um dia casando.
Mas ao longo de sete anos de casamento vai descobrir uma Naomi inesperada.
Naomi é considerada por alguns uma espécie de Lolita japonesa ou, noutra perspectiva, Joji representa um Frankenstein japonês, já que ele é atacado pela sua própria criação.
Seja lá qual for a comparação que se faça, é certo que é uma obra com elementos típicos de Tanizaki, nomeadamente na temática da obsessão, que tem um lugar de destaque qualitativo na generalidade da obra.
Ao ler Naomi é necessário ter presente a sua localização temporal de realidade das primeiras décadas do século vinte no Japão. Século baseado na procura do desenvolvimento e da modernização do Japão através da aceitação dos modelos ocidentais, maioritariamente europeus e progressivamente americanos. É o fascínio pelo ocidente que une o casal protagonista da história e é o fascínio pelo ocidente que torna este livro uma peça perturbadora.
O livro é percorrido por uma acepção simbólica que já levou muitos críticos a atribuírem a conotação de ocidente a Naomi e de oriente a Joji. Isto porque Naomi representa a predominância, a exaltação de fascínio e fonte de interesse apaixonante. A sua sensualidade é demasiado envolvente e leva joji a supor um conjunto de atributos mentais e espirituais que em pouco tempo se apercebe falsos. Ainda assim, não há como evitar e não há como não ceder ao desejo de lascívia de Naomi.
A partir desse momento vemos bem delineado o carácter submisso de Joji e a sua falta de senso próprio. Não penso que será assim tão linear atribuir simbolismos tão pré-defenidos às personagens. A temática da dominação feminina é recorrente em Tanizaki e portanto pressupõe uma significação mais particular do que uma mera função metafórica.
É uma leitura interessante para se compreender a frivolidade crescente de uma sociedade dominada pelas aparências. O livro tem quase um efeito contemplativo. Tem aspectos sexuais que chegam a ser dolorosos, pelo conceito que representam, então consegue provocar um antagonismo de sensações.
O que realmente incomoda neste livro é a extravagância da discrepância entre os dois protagonistas. Mas se por um lado a atitude de Naomi consegue ser relativamente verosímil a mulher caprichosa que utiliza o sexo e o seu poder de lascívia para conseguir extorquir (essencialmente dinheiro) aos homens, por outro a personagem de Joji é profundamente irritante e chegamos a apelar ao seu bom senso !!
Pode haver uma fracção caricatural no meio disto tudo pois a ideia primordial do livro é nitidamente que o leitor odeie profundamente cada personagem mas anseie por uma conclusão de catarse que, escusado será dizer, não surge.
Autor:Sara F. Costa