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Sushi Bar

Certo dia, ao perceber o meu profundo interesse pelo seu país cultura, uma amiga japonesa prontificou-se a aconselhar-me este livro. “Foi meu professor.”, disse-me ela sobre Eduardo Kol de Carvalho.

Para mitigar a minha ignorância sobre tão distinta personalidade encetei uma breve pesquisa através da qual fiquei a saber que Kol de Carvalho é natural de Lisboa, licenciado em arquitectura, esteve envolvido em trabalhos relacionados com a recuperação da arquitectura portuguesa em Oman e na Tailândia e foi conselheiro cultural de Portugal no Japão até 2002, onde viveu doze anos, tantos quantos os capítulos deste livro, como o próprio faz questão de sublinhar.

Motivada pela curiosidade, lá me dirigi a uma conhecida livraria, minimizando, assim, o risco de não encontrar o tão desejado livro, e após uma procura exaustiva qual não é o meu espanto ao encontrar o dito livrinho na secção de culinária! Se alguma vez o procurarem desesperadamente sem resultado tentem espreitar a secção de cozinha oriental, uma vez que o título suscita este tipo de confusões.

Sushi Bar tem, como receita única, a de bem apreciar a cultura nipónica, saboreando-lhe os pormenores. Antes do “livro propriamente dito”, o «Diálogo com os leitores» é um pré-aviso daquilo que vamos encontrar: não é um guia turístico nem tampouco uma obra teórica ou académica, é «a visão do português, a nossa forma de ver e sentir» o Japão e a cultura japonesa. O objectivo do autor é aqui bastante explícito: «de uma perspectiva pessoal, é falar, através da experiência de episódios ocorridos nos doze anos lá vividos, sobre as formas de comportamento, conceitos, mentalidade, quotidiano, hábitos, costumes e vivências do povo japonês.»

Numa linguagem bastante coloquial, Kol de Carvalho vai introduzindo os factos históricos mais importantes relacionados com o primeiro contacto entre portugueses e japoneses, no século XVI, em simultâneo com a história da sua própria chegada ao Japão no século XX. E assim vai alternando o relato da sua própria vivência com o dos costumes bem diferentes que encontrou: a tradição que vai pugnando com a modernidade em todos os aspectos da vida social, a noção de civismo, outras fés e outras crenças, os festivais e a influência que neles teve a estadia dos portugueses, os valores de família, o idioma e a educação, o gosto pelo trabalho, expressão artística.

Um dos capítulos do livro é especialmente dedicado à arquitectura e, no último, Kol de Carvalho explica-nos, em traços muito gerais, não deixando, por isso, de ser bastante claro e completo, como funciona o governo no Japão, desde os tempos do xogunato até aos dias de hoje. Há ainda um capítulo sobre os japonólogos onde lembra, entre outros, Wenceslau de Moraes, Armando Martins Janeira, Fernão Mendes Pinto num plano diferente e, ao longo de todo o livro, o leitor é presenteado com deliciosas passagens dos preciosos relatos de Luís Fróis.

Tal como Garrett quis fazer em Viagens na Minha Terra («de tudo o que vir, ouvir, pensar e sentir se há-de fazer crónica»), Kol de Carvalho, ele próprio um japonólogo, deseja fortemente dar a conhecer uma sociedade que considera um modelo, «bom para copiar», e critica quem, ao contrário do que faziam os nossos antepassados, já não dá a conhecer as suas experiências, apontando a camuflagem do «egoísmo e desleixo» com a justificação de escassez de tempo e de experiência ou com a velha ideia de que “já há bastante documentação sobre o assunto”.

Com a garra de um japonólogo “à antiga”, Kol de Carvalho regressa ao Japão com a promessa de um tomo II de Sushi Bar. Como promotor da cultura japonesa, participou na organização de 450 anos de Memórias Luso-Nipónicas – Missionação eEcumenismo em 1999, em 2006 edita Mártires do Japão e Sopa de Pedra – Trilhos do Património Português, este último já numa perspectiva de dar a conhecer ao povo português a sua riqueza espalhada pelo mundo, seja em forma aquitectónica, linguística ou literária.

Autor: Joana Fonseca

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