No país do Sol Nascente existe um tipo de espectáculo semelhante à nossa revista e quase que poderíamos dizer que o “Takarazuka Revue” (宝塚歌劇団 Takarazuka Kagekidan) está um pouco para o Japão como a “Revista à Portuguesa” está para Portugal. Espectáculos ao bom estilo da Broadway, com um gostinho de teatro tradicional japonês pelo meio, são levados todas as semanas aos palcos por esta companhia peculiar, companhia que se divide em 5 troupes, (Hanagumi = Flor, Tsukigumi = Lua, Yukigumi = Neve, Hoshigumi = Estrela, Soragumi = Céu), estas revesam-se nas suas actuações, entre elas existem certas diferenças, tanto de estilo como de material, que fazem com que cada uma delas seja única.
Mas, o que tem esta companhia teatral de especial que se destaque das restantes?! Um dos principais motivos é de o ”Takarazuka Revue” ser somente constituído por mulheres em palco, um grupo talentoso de actrizes que cantam, dançam e interpretam as mais variadas histórias, desde as clássicas aventuras românticas às comédias mais “nonsense” que possam existir, incluindo até pelo meio algumas adaptações de mangas clássicos (Berusayu no Bara, por exemplo). Tudo isto é interpretado em performances melodramáticas.
Kobayashi Ichizo, foi o fundador desta companhia, este era o presidente da Hankyu Railways em 1913. A ideia surgiu como a base para atrair turistas para a cidade de Takarazuka, assim seria criado um teatro musical ao estilo ocidental, com uma peculiaridade todos os membros seriam mulheres, numa versão antagónica do tradicional Kabuki (onde são somente homens a actuar.)
As actrizes que interpretam homens são chamadas de otokoyaku (“papel masculino”), e as que interpretam mulheres, musumeyaku (“papel de rapariga” ou “papel de filha”). Mas não se julgue que qualquer uma consegue facilmente entrar para esta companhia, são necessários dois anos, de treino intensivo nas diferentes áreas teatrais, para que possam passar definitivamente aos palcos como actrizes.
Todos os anos inúmeras jovens tentam a sua sorte, para entrarem no Takarazuka Music School uma das mais competitivas do género no mundo inteiro. Infelizmente, para a grande maioria delas sem sucesso, anualmente só são abertas cerca de 40 a 50 vagas na escola e nem todas as jovens apresentam as características ou o talento necessário.
No primeiro ano as jovens actrizes treinam juntas e só depois desta fase são escolhidas as que irão ser as futuras otokoyaku e musumeyaku da companhia, normalmente as mais altas ficam à partida com os papéis masculinos. As otokoyaku passam a cortar o cabelo curto, e a assumir um papel mais masculino na sala de aula, e a falar na forma masculina. As otokoyaku representam no palco o homem idealizado pelas mulheres, sem aspereza ou a necessidade de dominar, no fundo o homem “perfeito” que não pode ser encontrados no mundo real.
Para muitos, por preconceito, pode parecer algo estranho ver espectáculos de transformismo sejam estes interpretados por homens que se fazem passar por mulheres, ou por mulheres que se fazem passar por homens. Isto até mesmo para uma sociedade como a japonesa, que tem aparentemente aceite a homossexualidade ao longo da sua História, no entanto o Japão é surpreendentemente tendencioso contra qualquer actividade lésbica, ainda que platónica, e para evitar confusões as actrizes não podem responder à correspondência das suas fás.
Uma curiosidade é que as actrizes da Takarazuka estão “proibidas” de terem quaisquer relacionamentos amorosos, de se casarem ou terem filhos durante os sete anos em que se encontram vinculadas à companhia, mas as regras tem vindo a afrouxar um pouco mais ao longo dos últimos anos.
Apesar do elenco ser todo do sexo feminino, as equipas que o rodeiam (escritores, realizadores, coreógrafos, designers, etc) e os músicos da orquestra podem ser tanto homens como mulheres. Não é incomum na Takarazuka uma orquestra predominantemente do sexo masculino ser liderada por um maestro do sexo feminino.
O estilo próprio da Takarazuka teve uma profunda influência sobre a história do anime e do manga, especialmente no “shojo”. Até mesmo algumas actrizes desta companhia ficaram bem conhecidas do publico do anime, como a actriz Mayo Suzukaze (que vemos no vídeo acima) a voz do lendário Himura Kenshin, do anime Samurai X.
Escrito por: Patrícia Andrade