Focando-se na Tradição e na Família, muitos japoneses usam os primeiros três dias do ano para viajar até às suas Terras Natais e participar em festividades com séculos de existência, repletas de significados muito próprios. Oona McGee analisou seis destas tradições japonesas, cujas vos trago neste artigo.
Se querem mandar um cartão de Feliz Ano Novo a alguém pois ficam a saber que existem duas formas dos escrever devido aos significados do kanji. Para dar uma ideia de “primeiro dia”, uma forma mais formal e com menos significado por assim dizer, devem usar a palavra gankitsu (元日). Por outro lado, os vossos amigos e familiares próximos irão certamente preferir um cartão com a palavra gantan (元旦), uma vez que, esta se refere ao “nascer do sol”, uma forma bastante popular e “calorosa” de começar o dia 1 de Janeiro.
Acredita-se que os Deuses do Ano Novo descem à Terra durante esta época e é comum encontrarmos decorações de bambo, os kadomatsu, à porta das casas de forma a ajudar os Deuses a encontrá-las, trazendo consigo espíritos de boa-sorte. Os Deuses ficam a viver nos kadomatsu até ao dia 7 de Janeiro, quando estas decorações são levadas aos templos para serem queimadas, libertando os Deuses de volta ao seu Mundo.
Considerado como uma homenagem à Deusa Amaterasu (espelho do sol), o kagami-mochi ou bolo de arroz espelhado, é também habitação dos deuses durante esta altura do ano. Segundo a Mitologia Japonesa, Amaterasu fugiu do mundo e escondeu-se numa caverna, condenando a Terra a uma época de escuridão. Eventualmente, a deusa acabou por ser atraída para fora do seu refúgio com a ajuda de um espelho, devolvendo a luz ao Mundo dos Homens. A forma redonda do kagami-mochi, semelhante à de um espelho, simboliza então a renovação de luz e energia que o novo ano traz consigo.
Este bolo de Ano Novo é feito colocando duas camadas de arroz esmagado uma em cima da outra, adornando-o com uma tangerina japonesa também conhecida como mikan. No entanto, tradicionalmente, a mikan era substituída pelo daidai (uma variante japonesa da laranja-azeda). Este fruto está ligado à expressão “geração após geração”, transmitindo o desejo familiar de uma linhagem próspera e longa. Como devem ter adivinhado, com o passar das décadas, o mikan começou a ser mais comum pelo facto de ser mais pequeno e doce, mantendo no entanto o significado de saúde e longevidade do daidai.
Outro facto interessante sobre as festividades de Ano Novo Japonesas são os iwaibashi, pauzinhos feitos com a madeira do salgueiro, considerados sagrados desde os tempos mais antigos. A espessura no meio dos pauzinhos representa um saco cheio de palha, simbolizando um ano de boas colheitas de arroz, enquanto as pontas unidas indicam que ambos os lados podem ser usados para comer. Apesar deste último pormenor, apenas uma das pontas deve ser usada, deixando a outra para ser usada pelos Deuses.
O O-Toso é um sake especial servido tradicionalmente no dia de Ano Novo com o intuito de expelir o azar do ano que passou e trazer saúde e longevidade ao novo ano, razão pela qual O-Toso é escrito usando os kanji das palavras derrota (屠) e espírito maligno (蘇). Para além disto, as ervas medicinais com que é preparado ajudam na digestão e protegem contra as gripes, tornando-o numa bebida perfeita para as festividades de Inverno, sobretudo as de Ano Novo. Depois de ser colocado no pote, é deitado em três chávenas de tamanhos diferentes, sendo que os membros da família e visitantes devem beber um pouco (pequenos goles) do mais pequeno para o maior.
Viajamos agora até ao Período Heian (794 – 1185) quando era considerado taboo, sinal de azar, cozinhar na lareira durante os primeiros três dias do novo ano. Como devem calcular, não havia outras formas de cozinhar alimentos e, por isso, as pessoas não tinham outra alternativa senão preparar com antecedência alimentos duráveis, osechi-ryori, e guardá-los em pequenas caixas até dia 31 de Dezembro. Embora actualmente os taboos tenham desaparecido e as famílias não tenham qualquer problema em cozinhar durante os três dias que abrem o ano, muitas famílias preservam esta tradição principalmente devido ao simbolismo que os ingredientes possuem:
A longa “barba” e curvatura do Camarão (ebi), semelhante a um idoso, representa desejos de uma vida longa. As ovas (kazunoko), simbolizam os desejos de novos nascimentos na família. O feijão preto (kuro mame) representa desejos de saúde para o novo ano. O pargo (tai) é considerado um alimento que traz sorte pelo facto do seu kanji fazer parte da palavra medetai que significa auspicioso. Igualmente relacionado com a formação de palavras temos as algas (konbu) cujo kanji se assemelha à palavra yorokobu que significa felicidade. Finalmente, a raiz da flor de lotus (renkon) possui vários buraquinhos, permitindo-nos “olhar” para o que o Novo Ano nos trará.
Escrito por: Ângela Costa
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