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Underground

Merece destaque, entre as grandes obras de Murakami, Underground, publicado em 1998. Não é um romance. É um “trabalho de literatura jornalística”, como deve ser designado, e debruça-se sobre o tema do ataque com gás Sarin no metropolitano de Tokyo, em 1995. Este ataque foi levado a cabo pela seita japonesa Aum Shinrikyo que, traduzindo, significa “A Verdade Suprema”. Esta seita reivindica para si o poder estatal e tem, inclusivamente, um jornal que facilmente se encontra em qualquer banca no Japão.

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No ano de 1995, dia 20 de Março, bem cedo, alguns membros da seita Aum Shinrikyo ocupam três linhas da rede metropolitana de Tokyo e usam gás Sarin para lesar os passageiros, numa tentativa de reivindicar aquilo por que lutam. Em Underground, Murakami procurou responder a muitas perguntas que se punham na sociedade japonesa de então.

No ano seguinte, em 1996, conduziu e, posteriormente, organizou entrevistas com 60 vítimas do ataque e 8 membros da dita seita. Em cada linha, para cada destino, ao ler os relatos de cada pessoa que estava em cada ângulo do espaço, ao reiterarem constantemente o som das ambulâncias, parece que realmente estamos lá. Causa-nos uma certa náusea o modo como os membros da Aum espalharam o gás pelas carruagens, levando-o cuidadosamente em sacos de plástico que, posteriormente, poisavam no chão e furavam com a ponta metálica e pontiaguda de um qualquer guarda-chuva.

Em Underground estão perfeitamente identificadas as linhas, todos os pontos visíveis em diversos mapas; todas as testemunhas identificadas e cada uma conta com precisão aquilo que foi capaz de ver; os sintomas foram referidos e muitas das vítimas queixavam-se de desconforto, náusea, perda de consciência, disfunções físicas e mentais pós-traumáticas.

É de notar que muitas das vítimas evitaram culpabilizar a seita Aum Shinrikyo com medo de retaliações ou castigos. Murakami entrevista, também, membros da seita Aum na tentativa de compreender a sua atitude como método de reivindicação, entrevista inclusivamente Shoko Asahara, o líder da seita. Esta não foi tarefa fácil e não agradou propriamente o autor, especialmente pelo facto de ele mesmo considerar que os membros da seita mostravam uma tendência para delegar responsabilidades de uma forma constante.

Ressalva, finalmente, uma ideia de crise de gestão pela fraca resposta a um ataque deste tipo e acaba por falar na falta de transparência do governo japonês, que conduz a este tipo de falhas.

Escrito por: Joana Fonseca

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