Loading...
ArtigosJogos

Breath of Fire IV

O nicho dos RPG’s japoneses no mercado de video-jogos português continua, apesar do marco que foi “Final Fantasy VII”, a ser diminuto. A isso muito ajuda o carácter do jogador português, mais interessado na experiência instantânea de um bom jogo de luta ou na emoção de encarnar as suas estrelas desportivas favoritas, do que em títulos que exijam uma maior dedicação ou paciência por parte do jogador.

Tudo isto faz com que poucos “Role Playing Games” possam ser encontrados nas prateleiras das nossas lojas de jogos para consolas. No caso dos PC’s, o caso está menos mal parado, porque a própria faixa etária do jogador típico proporciona-se mais a este tipo de jogos. Porém, e apesar da boa oferta americana e europeia neste campo, no que diz respeito às propostas japonesas, poucas alternativas existem: mesmo a Squaresoft deixou de converter os seus títulos depois de “Final Fantasy VIII”, e os japoneses são pouco apologistas do PC como máquina de jogos.

O panorama afigura-se negro – mas eis que uma luz de esperança surge ao fundo do túnel, sob a forma de uma série de conversões de jogos de Playstation para PC realizadas pela conceituada casa Capcom! E entre os títulos abrangidos, nada mais nada menos do que o quarto título da série “Breath of Fire”, uma das mais populares no Japão! Para qualquer fã de RPG’s japoneses confinado a um PC, esta é, por isso, uma ocasião única de experimentar um género que já há alguns anos não dava cartas num computador pessoal.

Mas como é o jogo? Será que vale a pena, mesmo para o fã mais acérrimo no RPG nipónico?

A história é o mais padrão que se possa imaginar: a Princesa Nina, membro de uma pacífica raça alada conhecida como Wyndians, calcorreia o mundo em busca da sua irmã Elena, misteriosamente desaparecida. Ela é acompanhada na sua viagem por Cray, o chefe de uma tribo de guerreiros tigromorfos, que nutria uma relação amorosa com Elena. Depois de uma avaria no meio do deserto provocada pelo embate do seu veículo com uma gigantesca criatura, Nina encontra um rapaz inconsciente por entre umas ruínas abandonadas. Ele é Ryu, e não sabe quem é, nem de onde veio… mas Nina acolhe-o e pede-lhe para a acompanhar na sua busca.

images/games/bof4/bof4_1.jpgimages/games//bof4/bof4_2.jpgimages/games//bof4/bof4_3.jpg

Entretanto, muito longe dali, um ser de enorme poder desperta: é Fou-Lu, o primeiro Deus-Imperador, que depois de 700 anos de sono, está disposto a recuperar o seu trono. Inevitavelmente, as histórias destes personagens entrelaçam-se, e no processo, Ryu encontrará as suas próprias origens, e descobrirá as virtudes e defeitos da natureza humana.

Uma história muito formulaica esconde, como costume neste tipo de jogos, uma profundidade de carácter associada aos personagens principais, que em diversas ocasiões são obrigados a questionar os seus métodos e motivos. A empatia com o jogador é bem mais potente do que a existente em qualquer divertimento não interactivo, porque no caso do jogo, somos nós que controlamos o destino destes personagens fantásticos, mas muito humanos. É esta a força pouco reconhecida dos RPG’s “à japonesa”, que apesar de muitas vezes repetitivos, nunca deixam de espantar quem testemunha a ligação que oferecem aos jogadores dedicados, que ao fim de algum tempo, começam a considerar os personagens como seus próprios amigos. “Breath of Fire IV” não desilude nesse capítulo, com a quantidade adequada de reviravoltas, traições, desilusões e surpresas típicas de um título deste género. Nada de extraordinário, mas eficiente, e sobretudo, tocante.

No nível de jogabilidade, verifica-se que, como é padrão neste tipo de jogos, existem 3 ambientes principais de jogo: o mapa do mundo, os cenários de jogo, e está claro, o ecrã de combate. Os dois primeiros não reservam grandes surpresas aos conhecedores do género, mas o terceiro tem algumas variações interessantes. Como costume, trata-se do típico combate por turnos e orientado por menus, mas ao passo que, na maior parte dos RPG’s japoneses, só 3 dos personagens controlados pelo jogador podem participar numa luta, em “BoF4”, até 6 personagens estão disponíveis para combater. Se bem que apenas 3 deles participem activamente nas acções de combate, a qualquer altura, qualquer um deles pode ser substituído por um dos personagens que ficou “no banco”. Assim, é possível desenvolver estratégias de encadeamento baseadas nas especialidades de cada personagem, ou enviar para trás um personagem ferido, mandando para a frente alguém que esteja saudável e que poderá prosseguir o combate ou curar o recém-saído.

Por outro lado, uma inovação muito “Capcomesca” vem na forma de “combos”: determinados tipos de ataques ou magias podem ser encadeados, de forma a criar novos feitiços ainda mais poderosos e a aumentar o número de impactos (“hits”) e o dano aos adversários! Original, se bem que mais adequado a um jogo de pura luta do que a um RPG.

No capítulo dos gráficos, a Capcom mantém a tradição de ser extremamente competente no campo dos gráficos 2D: os personagens são representados bidimensionalmente, mas enquadrados em cenários 3D. O conjunto, embora seja adequado a uma representação no ecrã TV, destoa um pouco no monitor de um PC, parecendo um pouco primitivo, se bem que mantendo todo o seu apelo. Quem estiver demasiado habituado às ofertas 100% 3D típicas do mercado de jogos PC dos nossos dias, achará um pouco desapontador, ao passo que os jogadores da “velha guarda” se sentirão bem à vontade com esta escolha.

No que diz respeito ao som, não são encontradas grandes surpresas: as músicas são adequadas, mas não memoráveis ao nível das composições de Nobuo Uematsu para “Final Fantasy”. Os efeitos sonoros lá estão, mas não alteram nada à experiência de jogo, nem para melhor, nem para pior.

images/games/bof4/bof4_4.jpgimages/games/bof4/bof4_5.jpgimages/games/bof4/bof4_6.jpg

O jogo tem o pequeno defeito de ser um pouco fácil demais, sendo terminado por um jogador médio em 25-30 horas, e sem precalços de maior: este crítico conseguiu sem qualquer problema ultrapassar os “bosses finais” à primeira tentativa, mesmo sem ter trabalhado muito nas características dos personagens. O jogo, assim, assemelha-se mais a uma história interactiva do que a um verdadeiro desafio às capacidades do jogador.

Servindo como uma luva para os admiradores do género, mas também adequado para quem se procura afamiliarizar com este tipo de jogo, “Breath of Fire IV” é uma proposta simpática da Capcom. Apesar de não atingir os píncaros de brilho a que a Squaresoft nos habituou, serve bem o seu propósito, e é aquisição essencial para quem, limitado a um PC, não se quer privar da experiência de poder jogar a um autêntico RPG japoneses – aqueles que, apesar de tão formulaicos e repetitivos, não podemos deixar de adorar.
Afinal de contas, os heróis são nossos amigos!

Autor:João Rocha

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Connect with Facebook

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.