Na passada geração de consolas houve um jogo que ficou nas sombras devido ao um fraco markting mas também devido à polémica que gerou, principalmente nos Estados Unidos, Inglaterra e Austrália. Para quem é fã de jogos de terror como Fatal Frame ou Silent Hill, Rule of Rose é um jogo perfeito, não só pelo terror psicológico que inspira, como também pelo enredo complexo. Este pode parecer confuso ao início, mas é profundamente cativante, prendendo-nos desde os primeiros acordes da música de abertura.
O jogador controla a jovem e tímida Jennifer, uma rapariga que vai num autocarro nocturno onde há apenas um outro passageiro, um rapazinho que a acorda e lhe pede que lhe conte o que acontece a seguir na história, entregando-lhe um livro velho em branco chamado Little Princess (A Pequena Princesa). O título do livro é uma alusão a algo que é dito na introdução do jogo sobre uma menina órfã que tinha uma amiga que sempre a acompanhava e que se chamava “princesa das rosas vermelhas”. Antes de Jennifer ter tempo de reagir, o autocarro pára, o rapaz sai e ela persegue-o até chegar a uma mansão abandonada, a qual é na verdade um orfanato, chamado Rose Garden (Jardim das Rosas).
Desde logo apelidada de “unlucky girl” (a rapariga azarada) Jennifer faz várias descobertas dentro do orfanato, apercebendo-se que este é controlado por um clube de crianças psicopatas chamado Red Crayon Aristocrats (Aristocratas do Giz de Cera Vermelho), cuja figura principal é a cruel e manipuladora Diana, que ocupa a posição de duquesa e é também conhecida como “The Strong-Willed Princess” (a princesa enérgica).
A líder do grupo é Wendy, a Princesa das Rosas, uma menina de aparência frágil e inocente que se virá a descobrir ter uma ligação muito forte ao passado de Jennifer. Eleonor é a condessa ou princesa fria, sendo de todas as personagem a mais enigmática, carregando constantemente consigo uma gaiola vazia. Ocupado o ultimo cargo do ranking alto encontra-se a baronesa Meg, também conhecida como a princesa de aparência sábia, uma menina egocêntrica responsável pelas técnicas de tortura que vimos a saber ter em tempos escrito uma carta de amor a Diana, por quem continua a sentir um grande fascínio e atracção (este foi um dos aspectos do jogo que foi alvo de críticas e polémica em vários países).
Por fim, ocupando o ranking mais baixo do grupo das “Aristocratas do Giz de Cera Vermelho”, para além da própria Jennifer, encontramos ainda as personagens de Amanda, uma menina perturbada e com excesso de peso que é alvo de humilhações por parte das outras crianças e Clara, que tem alcunha de princesa assustada, de quem se suspeita um passado de abusos sexuais da parte de Mr. Hoffman, o director do orfanato. Há ainda Brown, o cão que Jennifer salva depois de um evento perturbador num dirigível, onde sob ameaça de morte ela é obrigada a participar no jogo. Brown é um fiel labrador que tem uma importância central na história deste jogo surreal e que não só ajuda Jennifer a localizar itens, como também a distrair os monstros que ela encontra.
O jogo é formado por capítulos que se referem a acontecimentos passados e a cada nova descoberta surge a continuação da história nas páginas em branco do livro que o rapaz nos entregara no autocarro, no início do jogo. O objectivo de Jennifer, imposto após o encontro no dirigível, é o de conseguir um presente para cada membro do grupo dos “Aristocratas do Giz de Cera”, o que não é tarefa fácil, pois o jogo não é linear como os antigos Resident Evil e Silent Hill: o jogador terá que explorar e interagir de modos diferentes com as personagens e é normal perder-se várias vezes (deixado por vezes frustrado o jogador).
Os inimigos são os “imps”, criaturas muito magras que se parecem com bonecos de trapos e que surgem através das histórias que as aristocratas contam sobre o que acontecia a crianças desobedientes. Jennifer, porém, não os enfrenta, aparentemente não será possível matar essas criaturas pois a nossa personagem só consegue fugir ou desviar-se deles. Tudo isto é acompanhado por uma banda sonora que transmite uma mistura de sensações de aflição e ansiedade, composta por instrumentos de corda, destacando-se a música de abertura “A Suicide Love” feito pelo The Hiroshi Murayama Trio. Os gráficos para altura não eram extraordinários mas são satisfatórios, tendo como ponto principal as expressões faciais das personagens, principalmente de Jennifer.
Tal como antes mencionei, este jogo causou inúmeras polémicas. Isso deveu-se à abordagem de temas como a crueldade e sadismo infantil, pedofilia, sexualidade infanto-juvenil, sadomasoquismo e violência contra animais. O jogo foi proibido na Inglaterra, inquéritos foram abertos na União Europeia e o Ministério da Educação da Polónia proibiu a sua venda por mostrar crimes contra animais feitos por crianças.
Em última análise, Rule of Rose mostra-nos que não é preciso nenhum vírus mutagénico, exploração espacial ou viagem para outra dimensão para criar um excelente jogo de survival horror e que por vezes basta o amor inocente de duas crianças e um passado traumático para nos angustiar e ao mesmo tempo nos deixar ansiosos por desvendarmos o final. Em comparação com a experiência de muitos dos jogos de terror que hoje em dia são populares, em Rule of Rose há mais trama psicológica profunda do que acção e o medo mostra ser muito mais do que mero susto.
Escrito por: Alvin Batalha
Bruna
Rule of Rose é incrível, eu fiz uma matéria contando como a história foi do início ao fim em http://jogodeterror.com/a-historia-real-de-rule-of-rose
Recomendo jogarem é muito interessante.
Marcio Roberto
Esse jogo é maravilhoso, marcou-me profundamente. Sempre terá um lugar especial lá dentro, tanto para mim como para aqueles que o jogaram e foram a fundo na sua linda e triste história. Ah e o texto que a Bruna postou aí em cima sem dúvida vale a pena ser lido, é maravilhosamente explicativo! Só faltou mesmo a parte dos livros, mas tá ótimo. O Video Games Death também já fez vários posts a respeito desse game.