É actualmente um dos nomes mais importantes do movimento mangá no Brasil e vencedor de uma das edições do Silent Manga da revista japonesa SMAC. Max Andrade já conta com alguns mangás publicados no Brasil e no Japão e parou um tempo de desenhar para falar com a equipa do Clubotaku numa pequena e rápida entrevista:
Quem é Max Andrade?
Como gostamos de dizer aqui, em brincadeira: apenas um brasileirinho.
Quando é que começou a desenhar mangá?
Em 2008, para valer. Acredito que mangá não é um estilo de desenho, por isso conto a partir do ano que criei de fato histórias completas, finalizadas, lançadas.
Como é o seu processo de criação? Escreve primeiro o roteiro e desenha ou faz o inverso?
Cada obra tem um caso. Fui mudando e aprendendo com o tempo. Actualmente, eu faço um pequeno resumo da história, disso separo ela em tópicos e depois vou para os thumbnails e storyboard (NAME). Essa é a parte mais complicada para mim: transformar o texto e a ideia em quadrinhos (banda desenhada como se diz em Portugal). Depois vem o desenho e a arte final, que acho mais tranquilo.
Ainda sobre o desenho de mangá. Existe muita discussão sobre o que é mangá e o que não é? Você acha que mangá é apenas ter desenhos com personagens de olho grande ou tem mais a ver com o estilo de narrativa (movimento, onomatopeias, etc)?
Respondi ali nas perguntas anteriores sem saber que essa viria. Não tenho a menor dúvida que mangá NÃO É um estilo de desenho.
Quem são os artistas que influenciaram você?
Dezenas. Focando nos artistas de mangá, temos como meus favoritos Masanori Morita, e depois dele Togashi, Toriyama, Inoue, Murata, Takei e por aí vai.
Em 2013, você começou a participar no Concurso Silent Manga da revista japonesa SMAC!? Como descobriu e como era a história que enviou?
Eu participei inicialmente em 2015 no Round 03. Conheci por meio do Ichirou, o primeiro brasileiro vencedor do concurso. A partir daí fiquei com vontade de participar e ganhar também, mesmo sem acreditar que eu poderia.
Você teve um trabalho nomeado com direito a uma viagem ao Japão. Como foi essa experiência e conhecer alguns dos nomes mais “lendários” dos quadrinhos japoneses?
Foram duas viagens até o momento, cada uma singular de alguma forma. Sempre que falo sobre essas viagens acho que estou mentindo porque é tudo muito surreal. Conhecer os grandes nomes da indústria, principalmente o Nobuhiko Horie foi algo simplesmente indescritível.
Já tem vários mangás publicados (PRÉ – O Drama da Escolinha, HYPE, TOOLS, e outros one-shots em compilações). Pode falar um pouco sobre as histórias?
Hmmm… muitas histórias. Eu ia ficar horas aqui falando sobre cada uma delas, hahaha. O PRÉ é um drama com comédia. Foi meu primeiro trabalho vencedor de concurso. The HYPE ganhou o HQMix, que é uma espécie de Óscar dos quadrinhos brasileiros. Nele, o protagonista é um professor de um pequeno curso que da aula gratuita para comunidade carente que descobre que tem poderes activados pelos “headphones” de ouvido.
Tools Challenge é minha obra mais conhecida por ser seriada. É uma história que acontece em um mundo onde cada pessoa nasce junto com uma ferramenta que cresce junto com ela, sobre um garoto que precisa de entrar em um torneio de lutas ilegais pra continuar a viver.
Acho que já são bons pontos de partida pra gerar interesse nos leitores!
Como é que tem visto a reação aos seus mangás pelo público brasileiro? E no Japão?
Existem diversas reacções. Nem todo mundo vai gostar, claro. Mas receber o carinho dos leitores e feedbacks de gente que se importa com seu trabalho é muito bom. No Japão, por enquanto só tive contacto directo com os editores e com crianças que foram no evento da primeira vez que recebi o prémio. Demos autógrafos para as crianças, foi uma experiência linda. Espero poder entrar em contacto com o público japonês mais vezes.
Por falar em Brasil, você tem contacto com outros mangaka nacionais? Quem sãos os nomes que destacaria neste momento que estão a lançar quadrinhos de inspiração mangá?
Todo mundo aqui é meio amigo! Hahaha! A “cena” é pequena e acaba que todos se encontram de certa forma. Os mais dedicados e proeminentes em minha opinião são o Ichirou, Roberto F, YOS (todos MasterClass do SMA), Eudetenis, Kaji Pato, Rafa Santos e Wagner Elias, Daniel Bretas, Heitor Amatsu… enfim. Com certeza estou esquecendo muita gente boa.
Quem são os seus artistas favoritos?
Acho que basicamente os mesmos que mais me influenciaram.
Que mangás anda a ler? E quais recomendaria para um publico que quer começar a ler mangá?
Muitos! Difícil citar todos. Mas os que mais tenho gostado recentemente são Inuyashiki, GTO, Dr. Slump. Também tem os relançamentos Vagabond, Slam Dunk (meu mangá favorito), e Gunnm.
Quais os projectos para o futuro?
Por enquanto… terminar o Tools Challenge aqui no Brasil ainda esse ano (que vai até o Vol. 6), lançar alguns one-shots com os japoneses e tentar serializar algo lá a partir do ano que vem.
Umas últimas palavras para as pessoas da ClubOtaku.
Pro pessoal que quer fazer quadrinhos, siga em frente, pratique, não se acomode e acredite. Só depende de você e do tamanho da sua vontade para dar certo. Para os leitores, convido a conhecerem meus trabalhos e acompanharem a produção daqui para frente!
E se você for um editor de Portugal… entre em contacto para lançarmos por aí!
Entrevista por: Fernando Ferreira