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Tendo já aqui falado de Blue, editado na mesma colecção, remeto a essoutro texto as maiores considerações das especificidades do trabalho de Nananan, que aqui se mantêm, já que este também é um livro de uma novela, que foi sendo editada em curtos episódios (9, mais epílogo) desde 1988 até 99, logo, mantendo as mesmas características gráficas e narrativas.

A voz que estas imagens e este tom de escrita transmitem é de um olhar para a intimidade que existe entre as pessoas, o espaço que se constrói entre um casal (seja este “oficial” ou não, e até mesmo “momentâneo”)… A mera quantidade de vinhetas “silenciosas”, e a sua integração nas vinhetas, o esparso e contido uso de figurações onde as personagens trocam olhares ou os dirigem ao seu interlocutor, o súbito movimento do olhar (do foco, do leitor), desviando-o dos actores humanos, são algumas das estratégias de Nananan para mostrar o proverbial “outro lado” da psique das relações humanas.

Apenas o tipo de personagens se altera em relação à “novela” anterior, pois aqui temos como protagonista uma jovem mulher, deste Japão moderno que aprende a lidar com o mesmo tipo de crises de papéis sociais e morais do mundo contemporâneo, e que obriga a repensar toda ma História, dos chamados “valores” e “tradições”…

Trata-de uma novela de uma mulher dividida entre o amor, a paixão, os enganos a que esses sentimentos levam, e a permanente incógnita em relação aos caminhos que se abrem à nossa frente pelas escolhas tomadas: será mesmo necessário erguermos uma dicotomia entre a relação amorosa que se tem, “normalizada”, “quotidianizada”, mas de alguém que vamos conhecendo em profundidade e uma intimidade muito especial, por um lado, opondo-a a uma relação fogosa, louca, com alguém que nos incendeia os sentidos e embriaga a razão? Ou existirão todos os territórios pelo meio? E que tipo de sacrifícios estaremos dispostos a fazer para ter a certeza dessas escolhas? E haverá alguns sacrifícios que se tornam ridículos quando os fazemos, por serem mais dramáticos do que certeiros?

É toda essa espécie de perguntas que Miho, a personagem principal, parece procurar, em primeiro lugar, fazer… mesmo que, no fim, não tenha respoistas definitivas. Pelo menos valeu-lhe o ter caminhado pelo campo dessas questões.
Autor:Pedro Vieira Moura

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