Estava destinado que Fumiyo Kouno (史代こうの) fosse ser mangaka. Nasceu em 28 de Setembro de 1968 em Hiroshima, e desde muito cedo começou a desenhar as suas próprias histórias nos folhetos de publicidade que encontrava na caixa do correio. Apesar de ter crescido num ambiente familiar onde esta arte não era vista com bons olhos Fumiyo nunca parou de sonhar em ser uma artista e publicar as suas histórias.
Face ao que acontecia em casa, o contacto que ela tinha com o manga era emprestado pelos seus amigos. Na altura lia os mangas de Captain Harlock, mas outros autores como Osamu Tezuka e de Fujiko Fujioo foram uma referência e um marco na sua juventude. Outras das referências e inspiração foi o estilo literário de Sanpei Shirato, e a versatilidade de Yu Takita, autor pioneiro do manga autobiográfico. Durante a sua adolescência nunca parou de desenhar, bem como de estudar. Inscreve-se na Universidade de Hiroshima, onde estuda ciências, mas por pouco tempo. Fumiyo abandona o curso para ir morar para Tóquio onde começa o seu trabalho de floricultura.
Katsuyuki Toda, uma amiga da faculdade que havia abandonado os estudos antes dela para tornar-se uma artista de manga decide ir ter com Fumiyo para ser a sua assistente. É nesta altura que tenta entrar no mercado do manga mas sem sucesso. Em 1995, um editor da revista da Futabasha convida-a para desenhar uma história e é aqui que nasce o seu primeiro manga publicado com o nome de Machikado Hana da Yori (街角花だより).
Mais tarde enquanto trabalhava como assistente para Aki Morino e Fumiko Tanigawa, confirma o seu primeiro manga escrito e desenhado inteiramente por ela. Pippira Note (ぴっぴら帳), é uma comédia em formato 4-koma (o equivalente às nossas tiras) e que relatava a vida e a amizade entre uma jovem chamada Kimiko e Pippira, um passarinho perdido que ela acolheu. No mesmo espírito, começa em 1999 Kokko-san (こっこさん) mais um manga onde seguíamos o quotidiano de uma menina de 10 anos chamada Yayoi e de um galo bastante temperamental, esta obra, concluída em 2001 e publicada em volume encadernado por Ohzora Shuppan em 2005, porém este manga tem uma estética que dá mais liberdade ao formato 4-koma.
Logo após o fim do Koko, ainda em 2001, ela começa Nagai Michi (長い道). Mais de 54 capítulos curtos de 3-4 páginas, seguimos o divertido dia a dia de um casal japonês. Concluída em 2004, a obra foi publicada num único volume pela Futabasha em Julho de 2005, e reeditada quatro anos mais tarde em formato bunko. Foi também entre 2001 e 2002 que Fumiyo Kouno assinou os desenhos do one-shot Kappa no Neneko, com argumento de Akiho Kosaka e publicado em segredo pela editora japonesa Fukuinkan Shoten.
Em 2001, aproveita a oportunidade para formar-se em Humanidades pela “University of the Air”, uma universidade japonesa de educação a distância que aceita alunos de todo o país. Dois anos mais tarde, publica talvez a sua obra mais famosa e importante Yūnagi no Machi, Sakura no Kuni (夕凪の街桜の国), que no Brasil ganhou o nome de Hiroshima – A Cidade da Calmaria (e que podem ler aqui a review do manga). Pela primeira vez, e com um pouco de relutância no início, a autora aborda um assunto muito mais sério, que irá a partir de agora aparecer em outras obras: a bomba nuclear em Hiroshima, a sua terra natal, e principalmente as trágicas consequências que a bomba teve ao longo de várias gerações.
Em 2004 chegou Sansanroku (さんさん録), série que termina em 2006 com apenas dois volumes. O manga relata o quotidiano de um velho rabugento que é hospedado pelos seus sogros após a perda da esposa, aqui Fumiyo Kouno mistura outros dois temas que lhe começam a interessar: a morte e a velhice, e um gosto pronunciado pelas situações do dia a dia.
Seguiu-se o manga Kono Sekai no Katasumi ni (この世界の片隅に), publicado em inglês com o título de In This Corner of the World e que mais tarde teve adaptação em versão animada. Mais uma vez Fumiyo volta a Hiroshima para acompanhar o quotidiano de uma família no meio da Segunda Guerra Mundial, a autora neste manga mistura melhor do que nunca as suas temáticas preferidas. Este manga é um retrato bastante real e de temas difíceis como a guerra e as suas consequências mais colaterais e mais dramáticas sobre os civis.
Ao longo da carreira, Fumiyo Kouno venceu vários prémios. Em 2004, vence o Grande Prémio do Japan Media Arts Festival, categoria manga, pelo livro Hiroshima – A Cidade da Calmaria. No ano seguinte, esta mesma obra permite-lhe ganhar o “Prémio Criativo” do Prémio Cultural Osamu Tezuka, atribuição dada na maioria das vezes a obras que apresentam uma nova abordagem aos acontecimentos que marcaram a história. E quatro anos mais tarde, volta a receber o prémio do Japan Media Arts Festival em ex aequo com o manga Childrens of the sea, de Daisuke Igarashi. Nesse ano, o Grande Prémio foi atribuído ao manga Vinland Saga.
Escrito por: Fernando Ferreira