Jiro Taniguchi é sem dúvida um dos meus mangaka preferidos, os seus manga são de uma sobriedade, de uma beleza e de contemplação ímpar, e que dificilmente podemos comparar com autor japonês.
Lançado inicialmente na revista mensal japonesa Morning, Furari é agora compilado num volume (com edições em japonês, francês e espanhol até ao momento) e retrata o dia-a-dia de Tadataka Ino, cartógrafo e humanista, que vive no Japão na época em que a capital japonesa ainda tinha o nome de Edo (Era Meiji). Já aposentado e a viver com a sua jovem esposa e o seu gato, Ino gasta o seu tempo em longas caminhadas pelos diferentes bairros da cidade, com intuito de calcular com precisão o comprimento de um meridiano.
Durante esses passeios vai desenhando e saboreando os prazeres da que a vida (os piqueniques sob as árvores de cerejeira, a pesca do molusco ou a contemplação do imutável Fujisan. Estes passeios são também uma oportunidade para conhecer Issa, o famoso poeta, com quem partilha o seu gosto pela poesia. O gosto de Taniguchi pela comida, a poesía (haiku), a natureza e os animais, encaixa perfeitamente com o carácter de Ino, e quem sabe se este também não poderia ser o alter ego do próprio autor nesta obra.
A arte de Taniguchi continua de uma beleza irreprensível. Cada vinheta é ricamente ilustrada e repleta de elementos da vida quotidiana em Edo (os jogos para crianças, os vendedores ambulantes, a gueixa delicada).
Os cenários panorâmicos são particularmente elegantes, e facilmente nos remetem para os grande mestre do Ukiyu-e, como por exemplo Hiroshige com a sua obra “Cem Vistas de Edo”. O desenho de Taniguchi é a preto e branco, mas adivinham-se cores brilhantes na sua arte.
Se são apreciadores da cultura japonesa e do trabalho de Jiro Taniguchi então este manga de apenas um volume é para vocês. Taniguchi oferece-nos um grande momento de contemplação visual e educativa que é difícil resistir. Furari é sem dúvida mais um excelente manga deste autor já com um enorme curriculum.