São tão raras as publicações de banda desenhada japonesa em Portugal que sempre que aperece algo, por muito pouco que seja é sempre motivo de contentamento para os fãs.
Um desses casos foi a recente publicação do primeiro capítulo do mangá Travesseiros de laca (no título original “Futatsu makura”), de Hinako Sugiura no semanário Corrier Internacional inserido num destacável que o jornal fez à banda desenhada mundial no feminino.
Hinako Sugiura vem de uma família de fabricantes do kimono em Tóquio, e cresceu num ambiente com um sentido rico da tradição. Estudou comunicação e design na Nihon University, mas nunca chegou a completar o curso. Durante esse período conheceu Shisei Inagaki, escritor que publicou mais de 100 livros sobre o Período Edo e que ensinou Hinako a cada vez mais interessar-se pelo Japão feudal.
Em 1980, a revista underground japonesa “Garo” publica o seu primeiro mangá, uma pequena história intitulada Tsugen Muro nenhum Ume (em português Tendências e beleza artificial).
Seis anos depois, e já com os seus conhecimentos mais aprofundados sobre o Japão feudal Hinako, publica “Futatsu makura”, um mangá onde a influência do estilo Ukiyo-e é bastante visivel. Cada vinheta parece um autêntico quadro, como os que foram produzidos no século XIX, e que consistiam em desenhos com um bloco de texto por cima dele, um pouco o que é actualmente o mangá.
“Futatsu makura” leva-nos até ao distrito dos prazeres de Yoshiwara (um bairro fechado de Edo – o antigo nome de Tóquio – onde existia um complexo de teatros, bordéis, casas de chá e hospedarias), onde muitos dos homens passavam o seu tempo e as cortesãs mostravam os seus dotes de companhia. A história deste primeiro capítulo mostra-nos Bunkou, um homem que nos relata a vida numa dessas casas de chá.
Voltando à publicação, é de louvar o facto de terem respeitado o sentido de leitura original, ou seja da direita para a esquerda, no entanto, a escolha do tipo de letra que usaram na tradução é mal escolhida e interfere banstante na harmonida de cada koma (nome japonês para vinheta, ou “quadradinho” para os mais incultos). Mesmo não conhecendo o mangá original, desconfio que a tradutora, em algumas das falas deixou-se levar por uma tradução livre.
Para os que quiserem conhecer este mangá poderão adquirir na versão francesa que foi publicada pela editora Philippe Picquier. Fica aqui a sugestão.
Autor:Fernando Ferreira