Sempre achei incrível a forma como Taniguchi Jiro (谷口 ジロー) conseguia abordar de forma tão simples a complexidade dos sentimentos humanos. Sem recorrer a grandes artifícios e muitas vezes focando-se apenas no quotidiano de uma pessoa normal, as suas obras destacam-se por serem sempre alvo de bastante reflexão após a leitura, ficando normalmente na memória de quem as lê.
Em Fuyu no Dōbutsuen (冬の動物園), uma obra autobiográfica da vida do autor, o protagonista é Hamaguchi, um jovem artista que procura ter algum sucesso nos anos sessenta no Japão. No início da obra, Hamaguchi encontra-se a trabalhar numa empresa têxtil em Kyoto, onde as oportunidades para mostrar o seu talento em design escasseiam. Quando surge a oportunidade, Hamuguchi muda-se para Tokyo para trabalhar num estúdio de um mangaka, um trabalho que reanima o gosto que tinha pela arte de criar manga durante a sua infância e que ao longo do tempo vai moldando o seu futuro.
Passando-se a maior parte da acção em Tokyo, quando Hamaguchi decide apostar tudo num trabalho em que se sinta realizado, a obra leva-nos a vários momentos da sua vida. Desde acompanhante da filha do patrão, noites longas a trabalhar e bebedeiras com outros personagens excêntricos da cena artística de Tokyo, Fuyu no Dōbutsuen aborda de tudo um pouco, aproveitando até para retratar de forma bastante íntima o primeiro grande amor do protagonista.
Retirando o nome do hábito do protagonista de desenhar os animais do Zoo como um hobbie, Fuyu no Dōbutsuen é mais uma obra de Taniguchi que consegue gerar um turbilhão de emoções no leitor a partir das coisas mais mundanas. Os sonhos para o futuro, as frustrações do trabalho, a inveja pelo sucesso dos outros, sentimentos de fúria, desolação e de extrema felicidade são retratados de forma sublime pelo mangaka.
A partir do seu traço detalhado e realista, Fuyu no Dōbutsuen é mais uma obra imperdível do genial Taniguchi Jiro. O elemento autobiográfico desta obra permite-nos acompanhar alguns dos momentos mais marcantes da vida do seu autor, apresentados como memórias com que todos aqueles que se sentiram perdidos no início da sua carreira, ou que ainda se sentem, se conseguem facilmente identificar. Não há muitos autores que considere de leitura obrigatória, mas dos que considero, sem dúvida que Taniguchi está bem perto do topo dessa lista.
Escrito por: Nuno Rocha