Durante os anos 60, o cinema americano transcrevia para os ecrãs de cinema a guerra nuclear através de filmes de ficção científica apocalipticos. No japão, o mesmo tema era tratado nos anos 50 até ao anos 80 em forma de obras alarmistas, mas mais do que tudo humanistas. Se durante essa época, Godzilla tinha o poder cinematográfico e era um nome de referência, Hyouryuu Kyoushitsu (em inglês “The Drifting Classroom”) de Kazuo Umezu figura entre os clássicos dessa época a quando da sua saída em 1972.
Tal e qual como Dragon Head de Minetaru Mochizuki, também este mangá de Umezu retrata a história de um grupo de jovens estudantes que são “atirados” para um ambiente espacio-temporal inexplicável. Mesmo assim existem algumas diferenças, enquanto em Dragon Head o autor tenta explorar ao máximo o lado psicótico e assustador, em a sala de aula limita no melodrama outlandish energético. Esta diferença também é devido à diferença de idades de ambos os personagens principais de cada mangá. Num mangá o herói é um “teenager”, no outro é uma criança hiperactiva.
Uma manhã como todas as outras, uma escola primária japonesa desaparece sem deixar qualquer rasto. É projectada para um futuro pós-apocaliptico ou numaTerra que não é mais do que um deserto árido.
Sem concessões, Kazuo Umezu mostra-nos um thriller horrível e “gore”, onde não tem qualquer problema em confrontar mais de 800 crianças a todos os horrores possíveis e imaginários. Fome, peste, monstros mutantes, guerra quase tribal, representada com alguma igenuidade como as bellas receitas dos filmes americanso de série B dos anos 50-60 dignos de um episódio da “Quinta Dimensão”.
O estilo do mangaka também é uma caracteristica da sua época. Os personagens são simples, as caras redondas, mas sempre identificáveis, um pouco à semelhança do trabalho de Tezuka (Astroboy). O desenho é ritmado, ainda que o autor use uma paginação muito convencional. A ausência de fundos ou “backgrounds”, é substituído por um fundo negro, que não prejudica a legibilidade, aumentando o aspecto sombrio e mórbido deste clássico.
O mangá Hyouryuu Kyoushitsu existe em duas versões: francês e ingles. A versão francesa é inserida na colecção Bunko da editora francesa Glenat enquanto que do outro lado do oceano a edição ficou a cargo da editora americana Viz. É um dos grandes clássicos intemporais do mangá, qualquer que seja a temática. Apesar da geração mais nova do mangá achar que o grafismo tem um traço “primário” e velho, o que é natural dado ao ano em que foi editado, a história é bastante actual.
Apesar de ter uma temática ligada ao horror, “Hyouryuu Kyoushitsu” é um mangá que agradará a qualquer tipo de leitor mesmo que nunca tenha visto ou lido nada sobre o Japão, pois tanto a cultura japonesa e as referências culturais são irrelevantes para esta história.
Autor:Fernando Ferreira