Apesar de já terem passado quase 6 anos desde que ocorreu o trágico acontecimento de Fukushima, este acidente ainda permanece bem vida na retina de grande parte da população japonesa. No entanto, quando a atenção mediática abandonou a zona foi quando começou a tarefa de limpeza e descontaminação de centenas pessoas.
É esta premissa do manga composto por 3 volumes e intitulado Ichi Efu Fukushima Dai-ichi Genshiryoku Hatsudensho Rodoki (いちえふ 福島第一原子力発電所労働記, lit. Os Primeiros trabalhos diários na estação nuclear de Fukushima) é da autoria de Kazuto Tatsuta que tinha proposto este manga em 2014 para um concurso da revista Morning. O resultado foi o prémio de 1 milhão de ienes e a publicação do seu trabalho. O manga retrata o dia a dia de Kazuto Tatsuya, pseudónimo no qual o autor se esconde e um dos rostos anónimos que trabalha na zona de Fukushima, e que os populares baptizaram como Ichi Efu.
O planeamento da história limita-se à descrição do dia a dia na central de Fukushima 1. Este é o ponto de partida que nos é narrado na primeira pessoa com um extremo detalhe de cada uma das rotinas que devem seguir todos os trabalhadores e empresas envolvidas neste projecto de limpeza. As extensas e detalhadas descrições conferem ao manga um ritmo lento e uma leitura densa podendo mesmo a saturar o leitor (mesmo os mais resistentes).
Os personagens apresentados na história são muito humanos e autênticos, no entanto todos os nomes deles bem como das empresas foram substituídos par outros para proteger o anonimato.
Graficamente Ichi Efu não é uma obra que se destaque pela sua complexidade ou estilo próprio. Os personagens são meros veículos para a história e os desenho dos mesmos são pouco detalhados e elaborados. O ponto forte desta obra é sem dúvida a quantidade de desenhos das várias localizações. Cada um dos edifícios está representado ao mais ínfimo pormenor. Plantas e esboços complementam meticulosamente toda a informação que Tatsuya aborda nas suas explicações dotando a obra de uma componente visual muito impactante.
Podemos dizer que Ichi Efu é um bom exemplo do que pode ser um manga documental, um estilo que não se encontra muito nas edições manga fora do Japão, e além disso é também mais uma forma de conhecermos o Japão actual. O nível de informação massiva pode afastar os leitores mais “fáceis”, no entanto é uma excelente forma de conhecermos outras formas de narrativa e de histórias para aliás das meninas de olhos grandes e saias plissadas.
Em conclusão, Ichi Efu é um manga que pelo menos vale a pena deitar o olho àqueles que gostam de leituras mais “sérias”.
Escrito por: Fernando Ferreira