Manga polémico que quase não foi publicado, Kaze to Ki no Uta consagrou definitivamente o shonen-ai, chocou o Japão e fez legiões de fãs. Pela primeira vez, e nem Hagio Moto ousara fazer isso, dois rapazes foram mostrados fazendo amor, se beijando, tendo intimidades que quase não se via nem entre os casais heterossexuais dos mangas da época.
Nada de rumores e desvios de olhar, Takemiya Keiko retratou o romance de suas personagens com uma sensibilidade e intensidade raras em qualquer tipo de história romântica feitas até então.
Kaze to Ki no Uta passa-se numa escola na Europa, mas agora, data e lugar são bem precisos: França, região da Provença, ano de 1880, colégio Lacombre. A história gira em torno do romance entre o Serge Battou, que é gentil e puro de coração, e o frio e calculista Gilbert Cocteau, que não se importa em prestar serviços sexuais para quem quer que pague um bom preço.
Serge é filho de um conde francês e de uma cigana (que todos na sua família dizem ter sido uma prostituta) e deseja seguir os passos do pai e tornar-se um pianista. Sua pele escura e origem, atraem sobre ele a desconfiança e o preconceito, mas, também, a curiosidade. Ao ser colocado para dividir o quarto com Gilbert, o jovem fica fascinado e ao mesmo tempo horrorizado com os hábitos dissolutos do colega. A partir daí, tenta ajudá-lo, a mudar de vida, ao mesmo tempo que reprime violentamente o que começa a sentir por Gilbert. Já este último, parece insensível, é debochado, mas descobrimos depois que tem uma saúde frágil e que foi vítima de uma grande violência… aliás, por sua própria postura libertina e provocadora, as violências não deixam nunca de persegui-lo, só que o rapaz parece não se importar em absoluto.
Gilbert, no início parece desprezar Serge mas conforme este vai conseguindo, com sua personalidade gentil e amigável, angariar amigos e admiradores, o rapaz começa a sentir ciúmes, e enfim sua capa de indiferença começa a cair.
Apesar da violência de alguns momentos, o amor é a temática da história. Um amor puro que não pode ser forçado, nem comprado, que redime até os mais desprezíveis e não se detém diante das barreiras sexuais.
O amor em questão, não precisa, portanto, se expressar pelo contacto físico, até porque a luxúria pela luxúria e o comércio sexual corromperiam toda a pureza e nobreza do amor.
O género do amado pouco importa nesse sentido e essa questão discutida e desenvolvida à exaustão nos anos 70 se faz presente dentro do universo do manga e do anime até hoje, mesmo que a maioria das histórias actuais seja muito menos simbólica e tenham ambientações muito mais realistas e próximas da leitora.
O manga de Kaze to Ki no Uta teve 17 volumes publicados pela editora Flower Comics, sendo publicado originalmente na revista “Weekly Shoujo Comics” entre os anos de 1977 e 1984. Posteriormente teve pelo menos mais 3 republicações em formatos diferentes (bunko e aizouban) em 1988, 1993 e 1995. Em 1987, a história transformada num filme de 60 minutos, que não é suficiente para abordar com profundidade nem uma quinta parte da história.
Autor: Valéria da Silva
Guiandrade
Eu eu estou lendo o mangá, está sendo muito gratificante e uma intensamente se sensibilidade que nunca li. É uma pena que recebi um spoiler