Kitaro é um youkai e que nasceu num cemitério. A palavra muitas vezes é traduzida como “demónio”, mas é mais correcto utilizarmos o termo ”espírito perverso”, isto porque, os youkai podem ser bons, neutros ou maus tal e qual como nós, os humanos.
Kitaro é bom e gentil, apesar de ser muitas das vezes ser um pouco estranho. Umas vezes gosta de andar pelos cemitérios para absorver a energia espírita, outras prefere simplesmente estar quieto sem mover uma palha. Na sua fisionomia destaca-se o seu cabelo a tapar um dos olhos. O olho direito é seu mas o esquerdo pertence a Medama-oyaji seu pai, que morreu e renasceu numa versão antropomórfica do seu propio globo ocular que ocasionalmente por artes mágicas ou não sai do globo ocular de Kitaro para o ajudar ou dar conselhos.
Os seus amigos tal como ele também são estranhos, insectos horríveis, pássaros necrófagos, entre outros. Kitaro também tem poderes extraordinários que o tornam bastante resistente aos combates que vai tendo ao longo da história.
Shigeru Mizuki é quem está pode detrás desta criatura sobrenaural criada em 1959, mas só recentemente é que começou a ver a luz do dia em edições ocidentais como foi o caso da editora americana D&Q que decidiu apostar no trabalho de Mizuki.
Em Kitaro, Mizuki mostra-nos o lado folclórico do Japão com um estilo de desenho bem detalhado usando com mestria o traço. Os “backgrounds” e os monstros youkai estão bem desenhados e enquadrados apesar da sua forma simplista mas que dão ao leitor uma percepção de cenário estranho e inesperado.
Talvez a melhor forma de descrever Kitaro ao público ocidental que não está familiarizado com o folclore japonês é dar como referência clássica a série americana The Twiligh Zone, onde os episódios são estranhos, inexplicáveis ou mesmo bizarros. Esta referência cultural ociendetal também assistimos em alguns dos capítulos de Kitaro, onde o autor usa de forma divertida alguns dos monstros da cultura ocidental: Dracula, Frankstein ou mesmo o lobisomem para citar alguns deles.
Vale a pena destacar que o verdadeiro título deste manga é Hakaba Kitarō (墓場鬼太郎), traduzido como “Kitaro do Cemitério”. “Ge Ge Ge…” apenas se aplicou quando foi lançado a versão animada. Nessa altura o manga volta a ser editado agora com o mesmo título do anime para as vendas serem maiores. A versão original manga de GeGeGe-no-Kitaro apareceu na Shonen Magazine entre os anos de 1966-1970. A série continuou depois nas revistas Shōnen Sunday, Shonen Action, Shuukan Jitsuwa e outras.
Apesar de ter um estilo datado, Kitaro é uma obra essencial para conhecer a estética manga nos tempos mais antigos (anos 60) e um excelente documento para ficarmos a saber um pouco mais sobre o rico folclore do país do Sol Nascente.
Escrito por: Fernando Ferreira