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Minto na Bokura

Minto Na Bokura é bom, mesmo bué bom. Não tenho outra maneira melhor de o dizer. Diz-se que se deve falar de uma forma e escrever de outra, mas neste caso dispenso a regra.

Como alguns de vocês devem saber existem uma carrada de mangas, a maior parte veio do Japão. Numa base de dados mantida por um newsgroup famoso estão registados mais de 10000 séries de mangas e 2500 mangakas. Nesta perspectiva, a natural busca pela originalidade feita por cada artista, quando vai copiar outros estilos de BD, vai ironicamente fazer com que manga, no sentido clássico do estilo, vá perdendo as suas características identificatórias, à medida que estas vão sendo exploradas e combinadas com outras influências. Enquanto por sua vez essas mesmas influências vão assimilando para si o que define o que é manga. Este cenário propõe que talvez, daqui a algum tempo o que se conhece como manga, se altere e passe a indicar apenas o que a própria palavra significa – banda desenhada.

Por outro lado, cada vez mais o manga e anime são vistos como uma indústria. Quando algo começa se assume como “indústria” – neste caso manga – sabemos que a partir daí tanto os métodos, técnicas e esforço investidos de realização vão ser reduzidos ao menor denominador comum. Este evento marca normalmente o fim da “época de ouro”, em que os verdadeiros clássico ficam para trás, em pedestais inatingíveis até uma próxima renascença.

Quando se perguntava aos fãs de anime – na altura em que estes eram raros fora do Japão – porque razão gostavam tanto de anime, a resposta mais comum era: «Porque não há nada parecido». Agora, no entanto, encontrar algum anime/manga a que esse sentimento mágico – de se ter encontrado um “tesouro” – se aplique é cada vez mais raro.

Minto na Bokura, no entanto, é um desses bons e clássicos. Nota-se que não foi realizado por criatividade esforçada ou estudada, mas sim por um libertar de ideias e conceitos, destinados a passar para manga através de um estilo e arte saídos de talento natural. Tem a marca central do que define o que é manga, a troca entre perda de detalhe intensivo por ganho de expressividade, transmitida de forma graciosa. E não preciso eu destas palavras bonitas quando basta lê-lo para perceber que não precisam de ser escritas.

Escrito por Yoshizumi Wataru (吉住渉), esta célebre mangaka nascida em 1963 é famosa pela série manga e anime Marmalade Boy. Além de Minto Na Bokura [We are Mint] também publicou as séries Handsome na Kanojo [Handsome Girl] e Random Walk, entre outros trabalhos.

Yoshizumi Wataru é conhecida por usar um estilo shoujo clássico – romance, femininices, rapariguices, namoricos, coisas boas, toda-a-gente-tem-direito-a-ser-feliz, etc e etc. Mas sobrepõe ao shoujo clássico um estilo próprio que apela ao público em geral. É especialmente conhecida por criar histórias que giram à volta de círculos amorosos complexos, com toda a gente a tentar roubar o namorado/a de toda a gente. Normalmente as suas histórias têm por trás cenários originais e pouco ortodoxos. Da mesmo tipo de cenários usado nas histórias de hentai como forma de justificar o curto espaço de tempo que as personagens demoram até acabarem juntas e despidas. Mas a Wataru Yoshizumi, costuma ficar pela roupa interior.

O cenário de Minto no Bokura, pode ser descrito da seguinte forma: Temos dois gémeos fraternais – um casal – Noel e Maria Minamino. O Noel vai de férias de verão sem Maria e quando volta descobre uma carta escrita por ela, onde Maria diz que saiu de casa para se inscrever num colégio interno. Os gémeos estão naquela idade em que as raparigas se desenvolvem mais rápido que os rapazes. Enquanto o Noel está extremamente ligado e dependente da irmã, a Maria por sua vez, já começa a preferir a companhia de membros do mesmo sexo, e começa a olhar para membros do sexo oposto de forma diferente.

Na carta que Maria deixa, justifica o seu acto dizendo que vai atrás do seu primeiro amor, com a aprovação da mãe. O pai dos gémeos é que não gosta muito da ideia. E para Noel – extremamente possessivo no que toca a Maria – o mundo tinha acabado de acabar. A sua irmã longe dele? Atrás de outro!? NEM PENSAR! Usando os recursos e influência da família, ele consegue que um dos membros do conselho directivo do colégio o deixe inscrever-se fora de época. Com um senão: a única vaga existente é no dormitório feminino.

Determinado como estava, em idade pré-púbere, e ao contrário da quase totalidade dos rapazes neste planeta, Noel aceita.

Um novo guarda roupa, uma peruca, enchimentos para soutien, alguma prática em frente ao espelho, e estava pronto para começar a sua nova existência no colégio interno Morinomiya.

Claro que quando Maria viu a sua “irmã” Noel a ser apresentada à sua turma ficou um bocado transtornada. E o resto da escola bastante impressionado com o facto de Maria ter uma irmã gémea, em tudo idêntica a ela, mas bastante mais… “Maria”-rapaz.

E pronto. O cenário está montado. E a genialidade nisto é simples – a história escreve-se por si mesma. Noel preso a hábitos e companhias femininas, sem paciência para os aturar, por vezes atraindo atenções de outros rapazes. O seu plano para interferir com a vida amorosa da irmã. O segredo que não pode ser descoberto. O facto de toda a gente fora do colégio conhecer os gémeos como sendo um casal e não como duas raparigas. Tudo isto envolvido pelo facto que Noel começa a entrar na puberdade e se sente cada vez mais confrangido e incomodado pela situação em que se encontra.

E claro, com a marca principal de Wataru Yoshizumi – círculos amorosos complexos, em que assim que alguém começa a namorar ou gostar de outro, parece que lhe chovem pretendentes em cima, adversários ao lado e obstáculos à frente.

Na edição original este manga prolongou-se por 6 volumes na revista shoujo Ribon de 1997 a 2000. Mais recentemente foi editado em Espanha com o nome Somos Chicos de Menta em 16 volumes.

Altamente recomendado. Nem me dava ao trabalho de escrever isto caso contrário.

Autor:The Inu

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