Actualmente o estilo de terror japonês está bastante cotado no género cinematográfico, mas nem sempre foi assim… relembro que até ao ano 2000 o este género era conhecido por um grupo de pessoas muito mais pequeno. Mas desde que filmes como o Ringu (The Ring na versão em inglês) ou Ju-On que este tipo de cinema e estética ganhou muito mais adeptos em especial no Ocidente.
Também no mangá assistiu-se a um pequeno “boom” deste estilo de narrativa e em especial o manga de Jun Abe que segue passo a passo as qualidades e os cânones que fizeram com que este género ganhasse muito mais fãs.
Lançado inicialmente em 2006 na revista Young Sunday (Shogakukan) e mais tarde compilado num volume pela editora Shogakukan, Portus (ポルタス) é um mangá de terror escrito e desenhado por Jun Abe (1972- ) que debutou com o manga Nedan wa Ii-yo em 1990 e que teve mais umas duas ou três séries antes de chegar a este título.
A história começa com um mistério por resolver, que se converte numa espiral descendente de loucura e fenómenos sobrenaturais. Conta-se que existe um jogo que tem um nível escondido e que todos aqueles que conseguem desbloquear esse nível secreto recebem uma visita de um filho misterioso, que lhes pergunta se pretendem continuar com o jogo e ir para o “outro lado”. Se a resposta for sim, morremos imediatamente sem termos qualquer hipótese de voltar a trás.
O mangá desenvolve-se em torno do jovem Asami, um estudante do ensino médio e Keigo, o seu professor de arte. Antes de alguns eventos estranhos e trágicos terem ocorrido no primeiro capítulo, começamos a pensar que a lenda urbana sobre este jogo de vídeo pode ser verdade. Nos capítulos seguintes vamos tentar investigar a origem desta maldição; mas como é dito “quando olhamos para o abismo, o abismo também olha para nós”.
O argumento é uma galeria de cenas chamativas e grotescas que têm como objectivo aterrorizar o leitor (e acreditem que consegue) em certas situações, em especial nas cenas mais “distorcidas”. No entanto, o ímpeto para atingir todas as páginas faz com que o enredo tenha algumas cenas desligadas e o desenvolvimento de personagens seja um pouco arbitrário justificando os poderes sobrenaturais que aparecem no mangá para segundo plano.
Toda a arte de Jun Abe neste mangá contribui para agitar o leitor graças a um tom realista que não esconde os detalhes mais escabrosos de mortes e torturas. O uso assumido das sombras, o detalhe nos rostos refletindo as emoções são transmitidas na perfeição e estão bem enquadradas com as cenas de tensão e drama criando uma atmosfera de terror e mistério, que é simplesmente sensacional. Tudo está sujo e decadente, e esta “escuridão” vai aumentando à medida que a história avança.
Se és um fã incondicional do terror japonês não podes deixar escapar este one-shot PORTUS que tem uma história de terror completa e com substância que não fica nada atrás de outro grande mestre deste estilo, Junji Ito.
Escrito por: Fernando Ferreira
Michel
Animal essa resenha , adorei o traço e confesso nunca ter lido nada desse autor, Jun Abe. Vou ver se consigo algo ou até mesmo esse Portus.
t3tsuo
Recentemente o autor lançou o mangá Alice no País das Maravilhas pela Tokyo Pop/Disney nos Estados Unidos, mas penso que foi editado também no Brasil pela editora Abril.
Michel
Em quais idiomas, esse Portus foi publicado na Europa?
t3tsuo
Na Europa penso que foi apenas editado em Espanha pela editora Milky Way. Mas também existe a edição americana pela VIZ.
Michel
Vou ver se encontro pelo Book Depository, a versão em espanhol. Obrigado