Kanae, uma jovem a quem o marido desapareceu misteriosamente decide reabrir o seu negócio familiar, um balneário público. No entanto há feridas que não cicatrizam, e Kanae necessitará de toda a ajuda possível para recuperar das tempestades interiores que atormentaram o seu espírito.
Esta é a história de Undercurrent (アンダーカレント, leia-se Andākarento), um one-shot seinen manga (livros direcionados para um público mais adulto) da autoria do mangaka Tetsuya Toyoda (Coffee Time e Goggles). Foi pré-publicado na revista Monthly Afternoon da editora Kōdansha entre Setembro de 2004 e Setembro de 2005, e mais tarde publicado num único volume.
No manga, a jovem Kanae reabre o balneário que mantinha com o seu marido, depois do desaparecimento em circunstâncias estranhas. Para ajudar aparece um jovem que lhe dará todo o apoio que necessita para prosseguir a sua vida. Apesar de ser uma mulher de forte carácter, Kanae esconde uma grande dor pelos sentimentos de culpa em relação ao desaparecimento do marido.
A reconstrução da vida em comum de Kanae e do seu marido leva a um dos temas fulcrais da obra: a não comunicação e o conceito de conhecer uma pessoa. Estes temas não são muito alheios à cultura japonesa. A relação que se estabelece entre a dona do balneário e Hori, o seu ajudante, é também uma relação distante, cheia de silêncios e palavras não ditas.
Estranhamente desenhada e marcada por um tempo lento e melancólico, Undercurrent é uma obra intimista e que se destaca no panorama manga menos comercial. Atrevo-me a dizer que o manga é uma pequena obra prima da contenção e do intimismo, ou seja, de puro carácter japonês como os mangas de Jiro Taniguchi (O Diário de meu pai). Toyoda é um mestre dos silêncios e dos olhares como um processo de incomunicação.
Este one-shot é uma história intimista e de reflexões que facilmente cativará os leitores que procuram novas linguagens visuais fugindo aos mangas mais comerciais.
Obrigatório ler!
Escrito por: Fernando Ferreira