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Welcome to NHK!

A sociedade japonesa, é sabido, sofre de muitos males, fruto do conflito entre o que é esperado de um pais moderno e da sua própria cultura e hábitos. Entre elas, o problema dos “hikikomori”, jovens que se fecham em casa anos a fio por terem um medo táctico à sociedade do exterior é assunto grave, mas muitas vezes desprezado. É então, curioso ver algo como “Welcome to NHK”. Escrito por Tatsuhiko Takimoto, e desenhado por Kendi Oiwa, estamos na presença de um manga que chamaria de “humor negro social”.

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Satou é um rapaz com um problema. Ou melhor, muitos problemas. Para começar, há 4 anos que saiu da universidade e há dois e meio que se fechou em casa. Os pais cortaram-lhe a mesada, e de todas as maneiras está perfeitamente consciente que é um Kikikomori da pior espécie. É assolado por ilusões, toma drogas compradas na internet, e 4 anos em reclusão não fizeram nada de bom à sua libido. No entanto, está decidido a sair desta terrível situação. Claro que é mais fácil que dizer, mas uma “trip” dá-lhe o bode expiatório perfeito: NHK, a estação televisiva pública japonesa, que transmitiu as séries clássicas da animação nos anos 80, poderia muito bem ser um anagrama para Nippon Hikikomori Kyoukai, ou traduzido “Organização Japonesa Hikikomori”, que conspira para tornar a sociedade em Hikikomori – e dai o nome desta série.

Não é entanto, uma conspiração que move o livro, e sim uma rapariga chamada Misaki, que quer “recuperar” Satou do seu estado. Infelizmente, este tem uma tendência para se meter nas coisas mais estranhas. Logo à saída, encontra um velho colega de liceu, Yamazaki, que se tornou num Otaku, e o convence a iniciar um Ero Game – e com toda a investigação, este descobre que desenvolveu um Complexo de Lolita da pior espécie. De certa maneira, Satou é uma esponja social, que é facilmente induzido a fazer o que quer que seja. No entanto, as suas acções e a sua “humanidade” são por vezes libertadoras, levando outras pessoas a repensar o que fazem – via um efeito de reflexo, por assim dizer.

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A medida que a série avança reencontramos outros colegas de liceu – e cedo descobrimos um padrão. Todos eles, de uma maneira geral, falharam no seu “glorioso futuro” após os 20 anos. Welcome to NHK é portanto, uma série sobre a geração dos 80, que cresceu com o “Japão que pode dizer Não” mas encontrou nada mais à saída da escola do que um Japão em recessão, com pessoas que não sabem lidar com o insucesso social.

Desde clubes de suicídio aos esquemas de pirâmide, passando pela antiga paixão viciada em anti-depressivos, o restante elenco é interessante pela forma como se integraram na sociedade. E não julguem que Misaki, a auto-proclamada salvadora de Satou escapa a esta regra – por detrás da sua boa vontade, está uma católica com uma boa dose de problemas.

Por vezes, é-nos difícil de entender o objectivo dos autores. Enquanto mangas como “Genshiken” escapam a certos assuntos e focam no positivo, NHK é assustadoramente cru na maneira como reporta os hábitos menos… sociáveis. No entanto, em vez de ser moralista, não é por acaso que encontramos nele uma parte ou outra de nós próprios, dos nossos próprios medos ou obsessões. E subitamente, damo-nos por nós a rir das coisas mais horrendas e da solidão incomparável daquelas pessoas e de nós próprios. NHK torna-se então, um estudo sociológico dos Hikikomori, humor cru da própria existência.

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Será para todos? Não. A leitura requer um certo nível de conhecimento da cultura japonesa mais obscura, e as ideias expostas necessitam de algum estômago para serem digeridas. É no entanto, uma literatura interessante para quem esteja interessado no fenómeno “Otaku”, nos problemas sociais dos “Hikikomori” e em problemas de homens mais ou menos comuns.

Escrjito por: Nuno Sarmento

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