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Zero

Os trabalhos de Taiyō Matsumoto (松本大洋) costumam destacar-se pela perspectiva original que o autor dá aos temas que costuma abordar. Famoso por obras como “Ping Pong” (ピンポン), “Sunny“ , “Tekkonkinkurīto” (鉄コン筋クリート) ou “Gogo Monster” (GOGOモンスター), Taiyō Matsumoto decidiu enveredar pelo mundo do boxe neste “Zero”.

A narrativa dos mangas dedicados ao desporto costuma seguir um certo formato clássico, com um personagem que tem algum talento para determinado desporto a evoluir pouco a pouco a sua perícia até se tornar num herói na prática deste. Em “Zero” a narrativa é um pouco diferente, com o personagem principal a já ser uma figura consagrada dentro do mundo do boxe no início da obra.

Goshima, cuja alcunha é “Zero”, é um boxer profissional e campeão mundial que nunca perdeu um combate na sua carreira. Já se encontrando na casa dos trinta, Goshima continua a derrotar todos os adversários que lhe aparecerem pela frente de forma rápida e brutal. A facilidade com que vence os combates causa-lhe alguma angústia, desesperando por um adversário que desafie verdadeiramente a sua habilidade. Goshima vive para o boxe, não tendo qualquer outro interesse na vida, é um personagem obcecado pelo desporto e que resolve todos os seus problemas dentro do ringue.

A história do manga anda toda à volta da vida de Goshima e das pessoas que o rodeiam. Já se encontrando numa idade onde pondera reformar-se, a obra vai-nos mostrando a história da sua vida até ao derradeiro combate da sua carreira.

Há um foco em algumas das relações mais íntimas e especiais da sua vida, como a relação que tem com Araki, treinador e espécie de figura paternal do protagonista. Araki é o único na obra que realmente entende Goshima e as motivações que o levam a ser um autêntico demónio dentro do ringue. Não tendo um círculo de amigos relativamente grande, Goshima cria também uma relação de mentor-pupilo com um jovem pugilista chamado Takada, cujo incentivo dado pelo seu ídolo o leva a querer enfrentá-lo no ringue.

Mas a relação em que a obra se foca mais é a que Goshima tem com Toravis, um jovem boxer mexicano de dezanove anos com o qual Goshima deseja lutar. Toravis é um prodígio do boxe, havendo vários rumores assombrosos à volta da sua figura, o que só aumenta o entusiasmo de Goshima na sua vontade de combater com o lutador mexicano. A história do manga vai sendo construída em antecipação do combate de Goshima com Toravis, ocupando esta luta grande parte dos últimos capítulos da obra.

A arte de Taiyō Matsumoto é sempre especial, afastando-se do traço comum do mundo do manga. É um traço que tenta ser mais realista que o comum, mas que simultaneamente se torna um pouco surrealista, dando um visual único às suas obras. Num manga que exige uma arte que transmita movimento de forma convincente, o autor desempenha a sua função com bastante sucesso. As cenas de luta são bastante vivas, com a arte de Taiyō Matsumoto a criar um ambiente espectacular, dando-nos várias perspectivas que ajudam a intensificar a emotividade dos combates.

“Zero” é um manga de desporto diferente, é uma obra introspectiva sobre a vida de um atleta profissional que se encontra nos últimos anos da sua carreira. A solidão, empenho e filosofia de Goshima são alvo de destaque, numa obra que tenta dar uma imagem realista sobre a vida de um atleta profissional de topo e o isolamento que este tipo de vida pode causar.

“Zero” provavelmente será uma mais apelativo para os fãs, como eu, de desportos de combate. É uma obra interessante e de leitura rápida, contando apenas com vinte e dois capítulos distribuídos por dois volumes, sendo na minha opinião mais uma pérola da carreira de Taiyō Matsumoto.

Escrito por: Nuno Rocha

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