Recentemente estiveram em Portugal para um concerto único na Galeria Zé dos Bois em Lisboa. Já com uma extensa carreira os Acid Mother Temple são uma das referências incontornáveis da música japonesa e em especial do rock progressivo e psicadélico. Criados nos anos 70 pelo guitarrista Makoto Kawabata.
Quando é que sentiste que precisavas de criar o teu próprio grupo? Existe algum conceito por detrás dos Acid Mothers Temple?
Inicialmente não tinha qualquer intenção de criar os Acid Mothers Temple como um “ongoing project”. Começei o grupo porque conhecia fantásticos músicos que não tinha possibilidade de lançar um album e eu queria mostrar ao mundo como estes músicos soavam. O conceito resume-se em duas palavras “trip music”. Sempre ouvi diferentes tipos de discos de rock psicadélico, mas nunca fiquei realmente satisfeitos com eles.
Por isso, comecei a querer fazer música realmente “tripante”. Também foi para mim uma grande possibilidade de criar e experimentar todos os tipos de coisas no estúdio, e assim o primeiro album é basicamente um disco a solo. Editei e misturei todas aquelas gravações das nossas “jam sessions”, e acabou por resultar em algo semelhante a música concreta. Por isso nunca pensei em levar este grupo para tocar em concertos. Este disco foi a primeira vez que eu senti que tinha realizado o meu sonho de infância e que tinha criado uma música que conseguia fundir o “hard rock” com a música electrónica. E também era a tal música “tripante” que sempre. sonhei fazer.
E por por isso que decidiste criar uma editora?
No ínicio foi porque queria editar um disco como guitarrista a solo. Mas, eu sabia que não venderia muitas cópias, e por isso fiquei um bocado envergonhado em perguntar alguém se podia fazer isso por mim. Além disso, os discos de guitarra improvisada são como o peixe quanto mais fresco melhor.
Seria impensável vender centenas de cópias de umas gravações que tinha feito há mais de 10 anos. Foi aí que descobri o formato de CDR, e apercebi-me que assim não precisava de caixas e de stocks e também poderia editar sempre que quisesse e muito mais rápido. Por isso decidi criar a editora. Higashi e eu juntamos dinheiro para levarmos a editora avante, e decidirmos os nossos timmings para edição.Todo o processo é similiar às editoras normais, a gravação dos discos, o design das capas, organização dos discos e envio. A razão de limitarmos cada edição às 100 cópias é porque pensavamos que só deviam existir umas 100 pessoas para as comprar. Gravar mais de 100 cópias já se torna complicado, e nesta altura 100 cópias já não chegam por isso estamos a gravar entre os 200 e os 500 cds.
Falando agora da vossa música. Todos os temas são improvisados ou preparam alguma coisa?
Quando os AMT gravam, a maior parte das músicas são improvisadas ou então decidimos uma base simples e improvisamos o resto. Não gosto de escrever música. Se tu escreves música tens que ensaiar muito para as tornares perfeitas. Mas a música está em constanta mutação, dependendo do tempo, local e ambiente e tentar contrariar isto nunca produz bons resultados especialmente quando um grande grupo de pessoas toca juntas, ou seja quanto mais parametros tiveres, menos espiritual se torna a comunicação entre os músicos e o resultado final torna-se chato.
Quando os AMT tocam ao vivo, existe sempre uma base para cada tema, mas nunca sabemos o que poderá acontecer. Não vale a pena decidir antes dos concertos o que vamos fazer quando tocamos com pessoas diferentes, em locais diferentes, em dias diferentes. É por isso que as nossas tournée são sempre estimulantes para nós.
És um músico auto-didacta?
Nunca ninguém me ensinou a tocar, aprendi tudo sozinho. O meu conhecimento musical teórico está muito próximo do zero, mas nunca se tornou para mim um problema. Um dia o Keiji Haino disse-me isto, “Primeiro apareceu a música, depois veio a teoria”.A teoria musical nunca poderá ter aparecido primeiro que a música, por isso ensinar a teoria primeiro é um erro.” E é assim que eu sinto também. Sempre tentei usar o mínimo de conhecimentos na minha música. Acredito que seja a melhor maneira para fazer as coisas nem muito nem pouco. Se tivermos muito conhecimento ou técnica, inconscientemente queremos mostrar isso aos outros e nessa altura deixa de ser música e passa simplesmente uma mostra de capacidades. E isso não é o que eu quero que seja a minha música.
Qual é a tua inspiração para tocares guitarra?
Quando toco guitarra ou qualquer outro instrumento, nunca penso que sou eu que estou a fazer a música ou a exprimir-me. Na minha cabeça ouço constantemente os sons do cosmos (de Deus, ou de qualquer nome que queiras chamar).
Acredito que esse sons estão constantemente à nossa volta. Imagino-me como um receptor de rádio, apanho os sons e depois transformo-os com as minhas mãos de forma a que qualquer pessoa os possa ouvir. Assim sou eu, estou constantemente a tentar ser um receptor melhor, captando sons cada vez mais precisos e de dimensões mais altas, e tantar reproduzi-las com a maior fidelidade possível. Este é o meu objectivo.
E essas dimensões superiores são atingidas através das drogas? Ou são uma forma de inspiração e de liberdade?
No que respeita às drogas, eu já experimentei vários tipos de droga. Já quase morri por causa delas. A razão por as experimento é pura e simplesmente por curiosidade – para descobrir o que existe nesse mundo. A minha conclusão é que existem drogas que nos conseguem mostrar diferentes mundos, mas que não são mais do que guias. Agora, estamos preparados para alcançar esses mundos facilmente sem usarmos drogas. E estamos preparados para atingir um próximo nível – um nível que eu acredito que seja díficil alcançar usando o poder das drogas. Não repudio nem aprovo quem faça o uso das drogas, pessoalmente já não preciso delas mais. Se precisas de alguma pista ou um mapa para outros mundos, então as drogas podem ajudar-te mas elas não são mais do que uma pequena pista. Mas se pararmos lá então é como se nunca tivessemos visto outros mundos.
Além da música já experimentaste outras formas de arte?
O que é a “arte”? A maioria das pessoas refere a música como sendo arte, mas para mim é simplesmente música, nunca arte. Não há mais nada suspeito que a “arte”. Não é mais do que uma fraude para os pseudo-intelectuais mostrarem que sabem alguma coisa quando no verdadeiro sentido não entendem nada. Eu nunca toquei música como sendo “arte”. A minha música nunca é arte – é entertenimento, vulgar e para as massas. A música nunca deve ser menos do que isso ou mais do que isso. É apenas isso.
De que forma a cultura ocidental influencia-te musicalmente?
Á parte de algumas influências da música étnica, quase a totalidade das minhas influências são ocidentais. Eu costumava ouvir e gostar (e ainda o faço e gosto) de rock, jazz, música classica contemporânea, música tradicional europeia, blues, etc. Mas como sou japonês e nasci e fui criado no Japão, penso que algures no meu subconsciente existe alguma sensibilidade nipónica. Mas à parte da música tradicional não tenho qualquer interesse pela música japonesa.
Além do teu interesse em OVNIS, existem outras entidades metafísicas porque tenhas algum interesse. E se sim, porquê e qual a tua relação com elas?
Já foi cientificamente provado que a gripe é um vírus espacial que consegue penetrar na atmosfera terrestre nas camadas de ozono junto ao Pólo Norte. Estou do lado dos cientistas que estão a tentar provar a existência de vida na presença dos elementos (oxigénio e carbono) que são essenciais para que isso aconteça na Terra. Podem existir organismos que vivam na ausência de oxigénio, e também podem haver organismos que que não refletem luz (e por isso são-nos invisíveis).
Tentar usar as regras da vida na Terra ao resto do Universo não é diferente de cosmologia católica medieval. Para que todos saibam, o vírus da gripe pode já ter chegado há centenas de anos com a intensão de conquistar o planeta. Penso que não podemos pensar que os possíveis seres extraterrestes chegarão até nós numa espécie de nave espacial. Se o nosso corpo já criou sistemas de imunidade contra o vírus da gripe, então eles já iniciaram a colonização da Terra com sucesso.
Entrevista por: Fernando Ferreira