É um nome praticamente desconhecido no Ocidente e em especial em Portugal, mas YU Ojima (mais conhecido por Jimanica) e um dos bateristas mais interessantes da música actual japonesa em especial nas sonoridades da electrónica mais experimental. Estivemos à conversa com o músico para o conhecermos um pouco melhor e darmos a conhecer este interessante artista a todos aqueles que têm interesse pela música japonesa em geral.
Antes de começarmos a entrevista quero agradecer-te pelo tempo que disponibilizaste para esta entrevista. Mas comecemos pelo princípio. Para a maioria dos portugueses o nome de Jimanica é praticamente desconhecido, por isso a primeira pergunta é inevitável. Quem é Jimanica?
Jimanica é um músico japonês.
E aposto que toda a gente tem curiosidade em saber o que significa Jimanica. Tem algum significado?
O nome é uma meia piada. O meu segundo nome é Ojima, por isso peguei no “jima” e misturei com uma sonoridade que me soasse bem e ficou “nica”. E foi assim que encontrei o meu nome artístico ainda no tempo que fazia música electrónica/noise com o meu computador há muitos anos atrás. O tempo foi passando e fiquei apegado ao nome e ainda o uso. Por isso acho que não tem nenhum significado especial.
Quando é que começaste a tocar? E porquê bateria?
Os meus pais gostavam muito de música. O meu pai costumava tocar piano e ele gostava muito de jazz e música clássica. Minha mãe era professora de música folclórica japonesa de Shamisen chamada KOUTA e eles costumavam ouvir música pop como os Beatles, Elton John, Bob Marley etc … Então, eu sempre estive cercado de música desde a infância.
Quando era adolescente, fiz um workshop de Taiko gostei muito e foi nesta altura que comecei a interessar-me pelos instrumentos de percussão. No liceu, eu e uns amigos decidimos criar uma banda, eu queria ser guitarrista, mas na época era um rapaz gordo. Então todos esperavam que eu fosse baterista. E foi aqui que comecei a tocar bateria, e foi muito bom porque não tive que competir com nenhum outro membro, ninguém queria ser um baterista. E agora , olhando para trás acho que realmente foi uma boa escolha.
Então, és baterista desde os tempos de liceu. Que bandas tiveste na tua juventude?
Sim tive bastantes bandas no passado. A minha primeira banda tocava muita música britência dos anos 60-70’s de grupos como os The Rolling Stones, Led Zeppelin and Cream. Era um bocado estranho para uma banda de jovens tocar música tão “velha”, mas eu diverti-me imenso.
Li algures que tu estudaste “Visual Science”. Porque escolheste esta área de estudos? E também estudaste video art e disciplinas similares?
Eu tocava bateria quase todos os dias nos dias de escola, mas não acreditava que tivesse habilidades suficientes para entrar numa Universidade de Música. Além disso, naquela época nem sabia que existiam Universidades de Música para música pop.
Nessa altura eu tinha alguns amigos mais velhos que estavam na universidade de arte em Tóquio, e meu tio formou-se na Universidade de Artes de Tóquio e mais tarde criou uma empresa de design em Tóquio. Fui influenciado por essas pessoas e fiquei tão chocado quando visitei um amigo na universidade de arte. Era meia-noite e havia um DJ a tocar música techno alta no prédio do Clubroom e muitas motas de todo-o-terreno que saltavam de um lado para o outro. E isto não era um festival, era o dia a dia. Foi um caos para mim e o motivo para ficar lá e estudar muito.
Mas eu também gostava de ver muitos videoclips na MTV, por isso queria estudar algo relacionado à música e vídeo. Escolhi uma cadeira de ciência da arte visual. Mas quando cheguei lá, o que estava na moda era vídeo-arte, em vez de videoclips. Por isso eu fiz muitos vídeo-arte e instalações.
E anime, gostas? Quais são os teus desenhos animados preferidos e realizadores?
Sim, gosto de anime mas creio que não sou do estilo OTAKU. Os meus animes preferidos são AKIRA, GHOST IN THE SHELL e outros. Mas as minhas maiores influências são Osamu Tezuka (Phoenix) e o Go Nagai (Devilman).
Depois de terminares os estudos foste para Nova Iorque. Porquê os Estados Unidos em vez da Europa?
Quando tinha 21 anos fui para Nova Iorque durante 3 semanas por minha conta de mochila às costas. O meu objectivo era visitar o máximo de galerias que pudesse em Manhattan. Foi uma óptima viagem e fiz muitos amigos em Nova Iorque.
Depois voltei a Tóquio, e o meu amigo mais antigo que tocava na minha banda toca violão na nossa banda convidou-me para irmos juntos para Nova Iorque por um par de anos para nos dedicarmos à música. Na altura não tomei a decisão como profissional da música, o que eu queria realmente era voltar para Nova Iorque, e por isso isto já era um bom motivo.
Durante o período que morei em Nova Iorque, dediquei-me muito à música e em especial à bateria. Fui a muitas “jam sessions” para dar o meu nome a conhecer e esperar por convites. Não demorou muito tempo a ter começado a ser convidado para participar em outras “jam sessions” e a participar também em bandas de Nova Iorque. Foi esta experiência que me fez decidir ser um músico profissional.
De volta à música… Trabalhaste com tantos e diferentes artistas como por exemplo Yukushimaru Etsuko, Ametsub ou Oval. Quando escolhes estes artistas ou eles te escolhem a ti, quais são as coisas em que pensas e que queres trabalhar?
Antes de mais quero dizer que também fui inspirado pela música destes artistas todos que mencionaste e além disso respeito muito a música criada por eles. E também preocupo-me com o meu passado, pois tento sempre fazer música que coloque algo diferente da música pop comum. Por exemplo, quando eu faço uma música do estilo Funk, tento fazer algo desagradável adicionando algumas partes electrónicas com ruído/noise…
Essas pessoas entendem isso e é fácil compartilhar o que é necessário para criar a música que eles pedem. Eu também entendo o que eles pretendem quando trabalho com eles, especialmente com a voz de Yakushimaru Etsuko e como ela faz música.
Por falar em colaborações. Tens alguém que gostasses de trabalhar ou de fazer algumas remisturas?
Sim, há tantos mas tantos artistas com quem gostaria de trabalhar ou de fazer remisturas…
Shigeto, Tennyson, Qrion, Sen Morimoto, Julia Holter… só para citar alguns nomes.
O teu primeiro album “Entomophonic” tinha um conceito muito interessante onde cada tema era dedicado a um insecto e onde juntavas combinações mínimas de bateria e efeitos. Como surgiu a ideia para este disco?
Quando ofereci me para fazer um álbum a solo para uma editora, procurei uma ideia de como poderia distanciar-me dos álbuns a solo de outros bateristas. A maioria deles costumam mostrar as suas habilidades de composição e de técnica. Mas eu também não mostrei a técnica de bateria. Eu queria fazer algo que não se aproximasse dos outros trabalhos, por isso tive uma ideia de criar não um álbum de música, mas uma ideia de espécimes/amostras/manuais/arquivos… é difícil de definir, mas queria algo que não se parecesse com produtos musicais.
Além disso eu acho que o tambor é realmente bom instrumento para descrever insectos. E claro o som real que eles fazem, também a sua forma, velocidade e cor… Então gravei o som da bateria o mínimo possível.
Desde essa altura já lançaste 10 discos (solo, colaborações e remisturas). Tens planos para lançar um disco novo num futuro próximo?
Sim, já comecei a trabalhar nele, mas ainda está muito no princípio por isso é capaz de ainda levar algum tempo para sair…
Muito obrigado pela entrevista e queres deixar umas últimas palavras ara os nossos leitores?
Espero que toda a gente goste da minha música (http://jimanica.com) e espero um dia visitar Portugal. Obrigado.
Entrevista por: Fernando Ferreira