Quem está por dentro da música japonesa mais alternativa e underground não precisa que lhes apresente o senhor que se segue. Tabata Mitsuru já visitou o nosso país várias vezes com formações e projectos musicais diferentes. É um fã incondicional de bifanas e não gosta do Mourinho.
Fica a conversa que o ClubOtaku teve com um dos guitarristas mais importantes da música experimental underground japonesa.
Para aqueles que não te conhecem, quem é Tabata Mitsuru?
Tabata Mitsuru é um guitarrista, baixista e compositor japonês que toca a solo e em diversas bandas como por exemplo: ACID MOTHERS TEMPLE, AMAZON SALIVA, GREEN FLAMES, GUILTY CONNECTOR und TABATA, PAGTAS, 20 GUILDERS, Wabo-Chao e muitos mais projectos… e também criei as bandas: BOREDOMS, NOIZUNZURIi e ZENI GEVA.
Conta-nos como foi o teu passado musical. O que costumavas ouvir antes de começares a tocar em bandas como os AMT ou Zeni Geva? E actualmente, quais são as tuas influências musicais e extra musicais?
Nasci e cresci em 1965 na cidade de Quioto. O meu passado musical antes de começar a ouvir música rock eram os efeitos especiais e os temas das séries de tokusatsu que dava na televisão, Ultraman era uma delas. Mas também gostava de ver os filmes de Gojira.
Depois comecei a ouvir as bandas de rock classicas como os Led Zeppelin, Rolling Stones and Deep Purple, mas o punk e a explosão do new wave explosion estava a chegar. Primeiro gostei dos Buzzcocks depois dos Gang of Four, The Pop Group and Public Image Ltd. Actualmente, as minhas influências musicais vêm de todo o lado, até do som de uma fritadeira.
Em 1982 começei a tocar nos tempos de liceu e entrei numa banda chamada Sanagi e tocavamos uma mistura de new wave rock e reggae. Os Sanagi apenas editaram um tema numa compilação intitulada “Japan Reggae Crush”. No ano seguinte terminamos a banda e juntei-me ao projecto Noizunzuri, uma banda post-punk que fazíamos uma nova interpretação da música tradicional japonesa com a música noh.
Mais tarde, o baixista dos Sanagi Hosoi Hisato regressa à actividade e forma os Children Coup D’etat e tocavam uma mistura de free jazz, funk e punk rock. Alguns anos depois, eu e o Hosoi decidimos fundar os Boredoms.
Como avalias a tensão entre a espontaneidade da improvisação como o rigor conceptual do teu trabalho?
Não sei, nunca tinha pensado nisso.
Tu editas bastante. Tens ideia de quantos discos, cds e cassetes tens editados? Projectos a solo, bandas e colaborações?
Nunca os contei. Apenas sei que são muitos. Não sou o tipo de pessoa que gosta de fazer contabilidades, embora às vezes devesse ser mais organizado na contabilidade dos meus trabalhos. Mas o discogs faz isso bem (risos).
Falemos sobre as redes sociais e o Facebook. És um utilizador assíduo. O que pensas das redes sociais?
Sim sou e até parece que sou um viciado de facebook, mas eu não quero ser adicto de qualquer espécie. Apenas uso as redes sociais para promoção das bandas. É um bom meio de publicidade e de promoção para o nosso trabalho, mas penso que tem que ser uma coisa equilibrada, se não aborreço-me facilmente. É um pau de dois bicos. As redes sociais são úteis mas também matam o teu tempo livre.
Todas as manhãs acordo com fotos de deliciosa comida japonesa no teu facebook. Gostas de cozinhar ou preferes comer?
Ambas.
Regressaste recentemente ao Japão depois de uma enorme tournée pelos Estados Unidos. Como foi essa viagem?
Foi óptima. Muitos concertos e uma enorme caça aos discos.
E Portugal. Há planos para visitar o nosso país e dar alguns concertos?
Sim. Brevemente estarei em Portugal com um novo line-up dos Acid Mothers Temple que terá o nome de Acid Mothers Temple & Space Paranoid e já temos estes concertos agendados: 3 de Novembro na ZDB em Lisboa e a 5 de Novembro no Hard Club no Porto.
Quantas vezes já visitaste Portugal? E o que gostas mais no nosso país?
Várias vezes, já nem me lembro… Visitei Portugal pela primeira vez em 1996. Foi muito engraçado. A segunda vez, viajei até ao Porto com a minha namorada. Foi em 2005. A terceira vez foi com os Acid Mothers Temple com a tournée The Cosmic Inferno. A minha impressão de Portugal foi bem diferente depois de terem feito o Euro 2004.
De qualquer forma, gosto de Bifanas, Bacalhau, Arroz de Polvo, Vinho do Porto, vinho verde, Amália Rodrigues, Saudade e mais algumas coisas… Eu apenas não gosto de um tipo chamado José Mourinho.
E projectos para um futuro próximo?
Vêm aí a caminho mais uns álbuns a solo a editar num selo japonês. Serão instrumentais e com voz. Um deles será produzido pelo Makoto Kawabata dos Acid Mothers Temple.
Queres deixar algumas palavras para os leitores do ClubOtaku?
Basicamente um otaku não é um otaku… Obrigado.
Entrevista por: Fernando Ferreira