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Keiji Haino/Tatsuya Yoshida – New Rap

Um encontro entre o “guitar anti-hero” dos Fushitsusha, conhecido também pelos seus álbuns a solo de sanfona, percussão, electrónica e voz num estranho misto de psicadelismo, trova medieval e improvisação livre, e o baterista dos Ruins, que tão bem soube conciliar a tradição do rock progressivo com a verve do punk, só podia ser algo de especial.

E “New Rap” é-o sem sombra de dúvida, e mais até do que poderíamos esperar. Como os americanos gostam de dizer, e pelo ouvido o conceito existe também no Japão, o presente disco “kick ass”. Entrando decididamente em território do “japanoise”, este duo de mestres senta-se nos ombros de um gigante, os blues, e aí está a sua diferença relativamente ao “noise” de “drones” (sons contínuos) ou de texturas que muitos dos seus pares na cena nipónica preferem.

Não se trata, bem entendido, de um disco de rimas e “scratch”, ao contrário do que o seu título pode sugerir, mas é evidente a vontade de propor uma nova música de rua, tal como o rap em tempos já o foi. Nem que seja por ironia. Keiji Haino toca rápido sem entrar na armadilha do virtuosismo, e o que faz com as seis cordas e os pedais de que dispõe ocupa vários planos do espectro sonoro, como se fosse mais do que um músico a tornar a electricidade num fundamento criativo.

Sobre as muralhas de “feedback” e distorção que vai construindo cola por vezes alguns vocais do inferno, conciliando a tradição Dada com o guturalismo do death metal. Se já estávamos cientes da sua capacidade para gerir densidades e intensidades, nesta nova edição da Tzadik de John Zorn excede-se a si mesmo. É a isto que se chama “extreme music”, e muito mais apropriadamente do que noutros casos a que foi aplicado tal rótulo. Wolf Eyes? Mouthus? Ao lado do que aqui encontramos não passam de meninos de coro.

Inacreditavelmente, Tatsuya Yoshida encontra espaço para as suas pontuações rítmicas irregulares e os seus fraseios percussivos quebrados. Cada batida das baquetas nas peles é de um essencialismo que entontece. O resultado pode parecer excessivo, mas os meios para o obter são de um controlo e de uma oportunidade absolutos.

E não, nas intenções de Haino e Yoshida não está a prioridade de encadear explosões de energia, mas de ir construindo uma aguda consciência do corpo. O que eles pretendem é que os seus corpos ressoem no ar por meio dos instrumentos. O guitarrista de que toda a gente fala costuma falar disso nas entrevistas, e com um discurso no limiar do misticismo.
Esta é uma música com carne, sangue, nervos e vísceras. Performarte.

Autor:Rui Eduardo Paes

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