Depois do megalómano Merzbox, com os seus 50 CDs, Masami Akita volta a destacar-se com o mais modesto Houjoue, álbum com seis CDs contidos numa caixa de VHS que é, de qualquer modo, um empreendimento igualmente ambicioso do rei coroado do japanoise.
E o certo é que contém alguns dos melhores momentos do seu activíssimo percurso, uma vez mais com o propósito de fazer música surrealista de forma não-musical, utilizando técnicas automatistas e não propriamente as mais comuns da improvisação.
O nome Merzbow foi-lhe, no entanto, inspirado pelo movimento dadaísta e por Schwitters, o mestre da colagem que anteciparia o Surrealismo plástico. Ele fazia arte com o que encontrava na rua e eu trabalho o som com a porcaria que rodeia a minha vida, disse a propósito o também cineasta experimental que dirigiu um filme sobre o harakiri e o sepuku cujas imagens de vísceras e sangue não são fáceis de suportar.
A crítica tem-se referido ao seu trabalho como cacofonia orquestrada, e de facto Akita consegue que as suas densas massas de estática, feedback e distorção sejam sedutoras.
Influenciado por músicas tão diferentes quanto o rock progressivo, o free jazz, a electrónica erudita de Darmstadt e o concretismo, propôs-se desde cedo levar o que ia ouvindo ao seu extremo, numa destilação de energia e movimento.
Como costuma dizer, se música é sexo, então Merzbow é pornografia, entendendo esta como a inconsciência do sexo, assim como o noise, para si, é a inconsciência da música. E faz questão em distinguir o noise praticado no Japão do ocidental não sua opinião, este é muito conceptual e académico, enquanto o do país do Sol Nascente lida directamente com o êxtase sonoro.
É isso precisamente o que encontramos neste pacote: audio-orgasmos tântricos, com um arrebatamento e uma violência de dimensões sobre-humanas. Be ware.
Escrito por: Rui Eduardo Paes