No Japão existe um género de música tradicional chamado de Min’yō (民謡). A palavra começou a ser usada desde o século XX e segundo parece vem de uma tradução da palavra alemã “Volkslied” (canção folclórica). O termo min’yō também é usado para referir-se a músicas tradicionais de outros países. No entanto para fazer essa referência precisamos de adicionar o nome do país respectivo, ou seja, Furansu min’yō (música folclórica francesa), Supain min’yō (música folclórica espanhola) e por aí em diante. Assim sendo, por este motivo os japoneses sentiram a necessidade de usar a mesma terminologia e criar o Nihon min’yō (música folclórica [tradicional] japonesa).
Estas designações tradicionais dividem-se em géneros musicais que incluem “inaka bushi” (música country), “hina uta” (música rural) e outros mas para a maioria das pessoas que cantaram e cantam essas músicas, são simplesmente chamadas de “uta” (música).
A maioria das canções folclóricas japonesas relacionadas com o trabalho foram originalmente cantadas a solo ou por grupos heterofónicos. Algumas canções apresentam um estilo de “chamada e resposta”, e que em Portugal conhecemos como as canções à desgarrada. Durante o período Edo encontramos canções acompanhadas por de shamisen (instrumento de cordas), shakuhachi e/ou shinobue (dois instrumentos de sopro) e que conferem uma sonoridade mais próxima à do nosso Fado. Os instrumentos de percussão, especialmente os tambores, também aparecem no min’yō, em particular quando estas músicas são usadas em danças ou cerimónias religiosas. Algumas destas variantes ganharam vida própria e tornaram-se independentes, criando assim outros géneros musicais como o Tsugaru-jamisen e o Enka, que deve ser o mais conhecido e popular género vindo do min’yō.
Além destas variantes todas também é fácil de concluir que dependendo da zona do Japão, também as músicas e estilos de min’yō variam. Mas existem excepções à regra como são os casos das músicas encontradas na ilha de Hokkaidō, no extremo norte, e cantadas pelo povo Ainu e que são geralmente excluídas da categoria deste estilo musical, bem como as músicas do extremo sul (Okinawa), que diferem um pouco da estrutura de escala, na linguagem e nas formas textuais.
Para muitos japoneses, a música min’yō evoca ou simboliza uma nostalgia (ou, no caso, português a saudade) por locais, famílias, amores reais ou imaginários; por isso, é comum entre os japoneses que cantam este estilo de música usar-se o ditado: Min’yō wa kokoro no furusato, ou seja A música popular é a cidade natal do coração.
Tal como dissemos anteriormente existem imensos tipos de Min’you. Eis aqui alguns deles para ficarem a perceber um pouco mais as diferenças:
Oiwake – significa o ponto de ramificação da estrada secundária japonesa. É uma música tradicional que foi cantada nesta área.
Zinku – presume-se que tenha aparecido durante o período Edo. É caracterizada pela letra que tem uma forma métrica de um refrão com 7, 7, 7 e 5, mas também podemos encontrar com esta configuração 5, 7, 7, 5. É costume também haver um grito antes e depois da letra.
Roudouka – são as chamadas músicas de trabalho e que são cantadas pelos trabalhadores há muito tempo e são transmitidas entre os trabalhadores de cada tipo de negócio.
Mago-Uta – eram cantadas enquanto se andava de cavalo. Também teve o nome de Umaoi-Uta. Muitas das letras estão no estilo Zinku (1 refrão com 7, 7, 7 e 5) e não possui ritmo constante.
Kiyari-Uta – é uma canção que servia aos carregadores de toras pesadas aliviar o peso e tornar-se mais fácil o seu transporte.
Zitsuki-Uta – é mais uma das músicas de trabalho. São os trabalhadores que as cantam para facilitar a integração no trabalho. Estas eram cantadas na construção civil quando os trabalhadores preparavam o terreno antes de construir uma casa.
Yunta – é uma forma de música tradicional cantada na província de Okinawa, onde homens e mulheres cantam alternadamente.
Durante o século passado, muitas músicas do estilo min’yō foram adaptadas para se tornarem melodias altamente virtuosistas e intemporais. De facto, o min’yō é, nos tempos que correm, uma forma de música artística frequentemente estudada por professores, profissionais e estudiosos musicais. Quase que se tornou num estilo erudito. No entanto, para contrariar este facto, foram criadas imensas hozonkai, que poderíamos traduzir como sociedades de preservação para ajudar as canções a permanecerem na memória popular do povo japonês. Um dado curioso nestas “associações de preservação musical e etnográfica” é que se limitam a preservar apenas uma música local, deixando assim outras músicas do cancioneiro tradicional e popular para outras associações. Outra forma de preservação do min’yō são as centenas de concursos nacionais e locais que acontecem ao longo do Japão.
Em todos os estilos musicais sempre houve artistas que se destacaram em relação a todos os outros colegas de profissão. Dos artistas que tiverem bastante sucesso destacamos duas artistas já desaparecidas: Goto Matsue, a gueixa nascida em 1906 na cidade de Nagano e que morreu em Fevereiro de 1997. Lançou o seu primeiro single em 1931 e gravou mais de 1700 músicas durante a sua carreira como cantora; mas também Chiemi Eri, a popular artista e actriz que teve uma vida curta, pois morreu aos 45 anos e foi casada com o actor Ken Takakura entre 1959 e 1971.
Se ficaram interessados em saber mais sobre este género musical podem começar a pesquisar pelas duas cantoras que destacámos no parágrafo anterior. E como dizia o poeta, o min’yō primeiro estranha-se depois entranha-se.
Escrito por: Fernando Ferreira