Computações e cálculos, corrente alternativa e discargas electricas, ondas magnéticas e estática – transformaram-se nos instrumentos da “nova” música que se faz hoje.
“Dataplex” é um trabalho puramente experimental, ou se preferirem extremamente matemático. A ideia do projecto é criar uma música simplesmente com dados. Os dados são a matéria-prima e a intenção de todos este trabalho. Numa altura em que praticamente toda a manipulação sonora passa por ferramentas e métodos digitais, aproximações a este tipo de música são bastante frequentes. Não em relação aos métodos de composição através de algoritmos matemáticos como as series de Fibonacci ou outros, mas à forma de comprender e aproveitar que hoje em dia toda música é potencialmente traduzida a sequências matemáticas.
No princípio dos anos noventa foram feitas várias aproximações como as experiências sonoras dos Oval, usando para isso defeitos de gravação ou através de software. Este mesmo caminho foi também escolhido por outros projectos como por exemplo Alva Noto. A este tipo de sonoridade deram o nome de clicks and cuts.
Outra forma de criação é transformar os dados digitais em som, este processo é o preferido de Ryoji Ikeda em “Dataplex”. Para isso, serve-se de fórmulas ou simplesmente da aleatoridade matemática para criar frequências mutantes criando assim não a “nova” música… mas a música do futuro.
Em “Dataplex” as primeiras oito faixas são claramente dados em bruto completamente despidos, sequências ritmicas básicas como de matéria-prima se tratasse, o próprio nome da primeira faixa mostra isso “data.index”. As restantes faixas são combinações cada vez mais longas e complexas das primeiras oito faixas até chegarmos ao extâse sonoro em datavortex, onde todos estes dados parecem convergir para um buraco negro para desaparecerem e mais tarde resurgirem de novo em forma individual mas transformados pelo contacto que têm uns com os outros.
Desta forma, “Dataplex” parece um disco demasiado cerebral e carente de alma, mas não é verdade. Em alguns momentos encontramos um ritmo mais “dancável” mesmo sentindo que todos estes arranjos são de uma precisão cirúrgica e servidas em fatias curtas de um “beat” minimalista.
Editado pela etiqueta alemã Raster-Noton no final do ano de 2005, “Dataplex” assume-se como um dos discos mais próximo da estética desta editora. A procura e a exploração de toda uma palete sonora oferece ao ouvinte uma gama de sons que poderá ser díficil audição, dificuldade essa advertida na caixa do cd com a seguinte informação: “Este CD contém dados específicos que poderão ser só lidos em alguns leitores de CD. A última faixa poderá dar alguns erros em certos leitores de CD”.
Autor:Fernando Ferreira