Este disco de Tsunoda com título português configura uma outra forma de entender a música concreta e a recolha sonora in situ. Por duas vias:
1) o japonês não se limita a gravar a paisagem, preferindo preparar as situações que vai captando (mesmo que por meios extremamente simples), o que o coloca no campo do instalacionismo, ou quase;
2) os muito diversificados parâmetros sonoros sucedem-se de um modo tão rápido (as peças são relativamente curtas) e integrado que a ideia de permanência inerente ao género soundscape é completamente substituída por uma inebriante impressão de mudança e transformação.
«O Respirar da Paisagem» resulta, assim, num caleidoscópio de sons, sempre em movimento e mutação, sempre intrigante e vivo. Talvez em detrimento do que se vem chamando de deep listening, que vive das durações prolongadas e da reiteração, mas proporcionando-nos a multidimensionalidade do mundo acústico em que habitamos e dos inúmeros processos da imaginação para provocar ou ampliar determinadas particularidades do som que nos passam despercebidas.
O que aqui escutamos não será música na medida em que não se trata de som organizado e Toshiya Tsunoda teve de lidar com o elemento imprevisibilidade e com a impossibilidade de controlar os eventos, mas também é verdade que a sua intervenção na preparação destes quadros sónicos, no seu tratamento em estúdio, na sua montagem e no seu alinhamento tem tudo a ver com a prática musical propriamente dita.
E no que ficamos? Em algo que vem alterar os parâmetros estabelecidos neste tipo de intervenção…
Autor:Rui Eduardo Paes