Kunihiko Hashimoto (橋本 國彦, frequentemente escrito também Qunihico) é tido como um dos maiores compositores japoneses da primeira metade do século vinte. Tendo nascido em Tóquio em 1904 acompanhou a mudança da família para Osaca ainda em criança e foi aí, quando integrou a filarmónica da escola, que teve o primeiro contacto com a música ocidental. Mais tarde, no liceu, foi aluno de violino com o mestre Kichinosuke Tsuji (辻吉之助), embora começasse também a mostrar mais apetência pela composição do que pela interpretação.
Entrou aos 19 na Faculdade Belas Artes e Música de Tóquio (東京藝術大学, Tōkyō Geijutsu Daigaku, onde se podia encontrar a famosa sala de concertos Sogakudo, 奏楽堂) tendo aí continuado os seus estudos musicais com o violino assim como direcção de orquestra (por ainda não existir à data um curso de composição).
Assim, e apesar de ter ocasionalmente recebido lições de Kiyoshi Nobutoki (信時 潔; também ele um grande compositor japonês, violoncelista e pupilo de Georg Schumann em Berlim), a sua formação musical como compositor foi praticamente autodidacta.
Posto isto foi ainda durante os anos 20 que o mestre Hashimoto alcançou a fama, muito para isso contribuindo esta sua aprendizagem desestruturada assim como uma aproximação à música folclórica e popular (à maneira de Kurt Weill), e ainda também com uma produção considerável de música para cinema e rádio.
Mas, por outro lado, abraçou ainda um verdadeiro ecletismo, assente nas suas peças impressionistas para piano e orquestra, experimentando ainda o jazz e dedicando-se a fundo ao atonalismo, como numa das suas mais famosas peças, Mai (まい, Dança), atraindo assim também uma reputação de vanguardista. Apesar deste aparente modernismo e informalismo pelo início dos anos 30 tinha integrado o quadro da Faculdade assim como lhe foi encomendada a Cantata por Celebração do Nascimento do Príncipe (Akihito 明仁, Imperador desde 1989) que compôs, por sua vez, no estilo germânico romântico.
Nos meados dos anos 30 foi enviado do Ministério da Educação, e reuniu-se com outros compositores na Europa e Estados Unidos da América, nomeadamente, Egon Wellesz, Toscanini, Alois Hába, Ernst Křenek, Weingartner e Schönberg, (ou seja, a chamada Zweite Wiener Schule, ou Segunda Escola de Viena, liderada por Schönberg e reunindo os mais destacados teóricos (e práticos) da música atonal) debruçando-se sobretudo sobre o futuro da composição musical e do atonalismo, assim como a música nacional ou nacionalista.
O seu regresso ao Japão em 1937, no início das manobras de invasão da China, viria a ser marcado pela conflicto entre a sua ambição de criador livre e modernista e as necessidades propagandísticas que o Império esperava do seu eminente professor.
Compôs assim durante este período uma sinfonia pela ocasião dos 2600 anos do Império (uma data de raiz mitológica mas altamente propalada e exaltada durante o período de guerra, estabelecida como sendo em 1940), cantatas aos mortos em combate, assim como muitas outras canções de guerra, tanto promovendo o ânimo dos soldados como o daqueles que os esperavam. Por este seu papel Hashimoto viu-se forçado a abandonar o seu cargo de professor na Universidade após a rendição, em 1945, como parte responsável pelas actividades musicais (eventualmente subversivas) desenvolvidas em tempo de guerra (!).
Este período difícil inspirou-o no entanto à criação de algumas suas obras-primas como a Suite de Inverno e as Três Orações de Budistas Japoneses (三つの和讃, Mittsu no Wasan) que lidam com os sentimentos de desalento, culpa e ausência de sentido que marcou o povo japonês desta época, tendo-lhe ainda sido encomendada a sua Sinfonia nº 2 por ocasião da ratificação da nova constituição democrática do Japão em 1947.
Infelizmente em 1948 foi-lhe diagnosticado um cancro no estômago, tendo vindo a falecer no seguinte ano. Kunihiko Hashimoto acaba assim por encarnar o que foi o Japão da primeira metade do século XX, não só porque a sua vida ficou literalmente compreendida nesse espaço de tempo como a sua história encarna a dualidade entre o nacionalismo galopante e a modernidade das novas inovações musicais europeias, respeitando o divino e o profano em igual medida, e indo do rigor da docência académica ao vanguardismo nas suas composições.
Para além da sua obra como compositor manteve ainda uma carreira como violinista (até 1934) e como maestro, tendo regido orquestras no Japão, na China e na Coreia, exibindo no seu repertório tanto as suas obras como as de outros compositores japoneses e estrangeiros. Tendo sobrevivido à guerra acaba por falecer no momento em que o processo de ajustamento à nova realidade da sociedade japonesa estava em curso. Dos seus alunos, Yasushi Akutagawa (芥川 也寸志), Toshiro Mayuzumi (黛 敏郎 ) e Akio Yashiro (矢代 秋雄) viriam a ser figuras de primeira linha da música japonesa do pós-guerra.
Mais sugestões de audição:
- Sinfonia nº 1
- Oroku Musume (お六娘)
- Okashi to Musume (お菓子と娘)
Escrito por: João Mota