“O Único Senhor Mitsuo Matayoshi Jesus Cristo” (唯一神又吉光雄 イエス キリスト), também Jesus Matayoshi (又吉イエス).
Obviado pelo seu nome, Matayoshi identifica-se como a reincarnação de Jesus Cristo, que defende ter vivido, criado família e morrido no Japão. Tomando os preceitos de Jesus sobretudo segundo o sermão do Monte das Oliveiras, de natureza profética e apocalíptica, tomou assim em si a tarefa de anunciar o fim do mundo. No entanto, e ao contrário de tantos outros profetas do apocalipse, escolheu ao menos um meio original para o fazer – a política.
Natural de Okinawa, deste candidato eleitoral recorrente sabe-se ter sido director de uma escola privada nos anos 70, e que mais tarde se integrou num grupo Pentecostal onde terá desenvolvido as suas habilidades de orador e pregador. Em 1997 fundou o Partido Mundial da Comunidade Económica (世界経済共同体党) que defende o fim do mercado global e o regresso ao modelo económico de base agrícola. Desenvolveu ainda um plano em três etapas para conseguir o controlo do mundo, a saber: primeiro, tornar-se primeiro ministro do Japão; segundo, reformar a sociedade japonesa; e terceiro, que o mundo, deveras impressionado pelos resultados entretanto conseguidos, lhe oferece o posto de secretário geral das Nações Unidas. Estando então aí o poder político garantido, passará a exercer o seu poder espiritual, levando a cabo a reanimação dos mortos e o Juízo Final. Como certamente se terão apercebido Matayoshi ainda não conseguiu passar da primeira etapa, embora não por falta de vontade, já que tem frequentemente ido a votos desde 1997. Destas eleições concorreu então a presidente da câmara de duas cidades (Ginowan, Okinawa a sua cidade-natal e Nago, também em Okinawa), a governador da província de Okinawa e a deputado da Assembleia (por Tóquio), repetidas vezes para cada cargo.
Durante as campanhas eleitorais Matayoshi surge nos “posters” com o Sagrado Coração de Jesus a reluzir-lhe no peito, e percorre o país na sua carrinha, equipada com altifalantes. Fazendo jus à sua incarnação apocalíptica de Jesus, não se coíbe em prometer as chamas do Inferno aos seus adversários políticos, assim como ficaram famosas as suas intervenções onde encorajava os mesmos a cometer harakiri (seppuku).
De Matayoshi, aos 70 anos, e dos seus seguidores, espera-se ainda que dê os próximos passos, com os rumores de abandono da vida política a serem desmentidos após a última eleição falhada, em 2013. Apesar do seu carácter religioso, não criou nenhuma religião nem lhe é prestado culto, nem tão pouco se integra em qualquer seita cristã pré-existente.
De outro modo, a sua visão nipo-cêntrica e de justiça e igualdade social é interessante, embora obviamente obscurecida pela forma como as decidiu transmitir. A sua personagem, que vive no equilíbrio entre a doença psiquiátrica e o folclore, é mais um de entre alguns exemplos (com a Aum Shinrikyo e Issei Sagawa à cabeça) de uma coabitação pacífica da sociedade japonesa com o que se poderá definir como simplesmente bizarro, seja ele perigoso ou apenas caricato.
Escrito por: João Mota