Dentro da vasta arte tradicional japonesa, importa destacar a Pintura em Biombos e a Arte Namban, que constituem autênticos exemplos da evolução artística que a sociedade japonesa foi sofrendo ao longo dos tempos.
A pintura em biombos é feita à mão através de madeira, bambu, papel washi e folhas de ouro, sendo o seu fabrico totalmente artesanal. Este tipo de pintura é realizado unindo vários biombos de modo a ficarem de pé, servindo como divisória de ambientes ou como simples barreira contra o vento. É nestes aparentemente simples objetos, que é possível vislumbrar verdadeiras obras de arte, elaboradas ao pormenor, servindo igualmente como telas de fundo para vasos de flores ou cerâmica, bem como instrumentos decorativos que acompanham as cerimónias de chá e ikebana (arranjos florais), dando um toque de requinte ao cenário envolvente. As ilustrações presentes retratam um único desenho que se vai prolongando por um ou mais de dez painéis e que aborda tanto aspetos ligados à natureza, como mitológicos, o caso do dragão e que são símbolos de uma beleza ímpar. Tendo-se desenvolvido primeiramente na China, acompanhou as diferentes eras cronológicas japonesas, desde o Período Nara (646-794) à época moderna com o Período Muromachi (1392-1568), consistindo sem dúvida num dos grandes tesouros representativos do folclore japonês.
Quanto à Pintura Namban ou Naban-jin referindo-se aos povos europeus, considerados os “bárbaros do sul”, esta desenvolveu-se devido ao período dos Descobrimentos e Expansão, entre os séculos XVI-XVII, precisamente durante o período do comércio Namban, influenciados pela presença ocidental, essencialmente com a chegada dos portugueses no ano de 1543.
Nesta arte podemos vislumbrar a presença de biombos compostos por seis leques rematados por uma fina moldura em laca, constituídos por dois elementos de seis folhas ou mais articuladas, onde será possível visualizar um conjunto de componentes associadas à presença luso-japonesa, criando por um lado, um choque de culturas completamente distintas entre si, mas que por outro mantiveram fortes pontos de contacto a nível comercial e cultural, aspetos esses que foram registados e preservados por esta arte. Os temas mais retratados abordavam o clero missionário, as naus, a burguesia mercantil e seus produtos, os navegadores e o ambiente envolvente, cheio de alegria e de entusiasmo, ou seja uma autêntica novidade para o povo nipónico. Só por curiosidade, uma das maiores coleções de arte Namban, encontra-se preservada no Museu da cidade de Kobe, no Japão.
Tanto a arte tradicional japonesa, como a pintura em biombos e a arte Namban, consistem em aspetos de riquíssimo interesse e valor, não só para a população japonesa, mas também para os povos que se identificam e apreciam a cultura asiática.
Este vasto complexo artístico consiste sem dúvida num tesouro que o Japão guarda e preserva, devido à sua importância cultural e ao seu interesse histórico, tratando-se sem dúvida de um retrato das tradições e memórias ancestrais de um Japão tipicamente antigo, que comunga facilmente com uma nova faceta, própria de um Japão moderno, dinâmico e inovador.
Escrito por: Mia Mattos
Inês M.
Parabéns Mia, porque o artigo apresenta muito bem este tema. (E parabéns também pela escolha das ilustrações.) Já agora, só para dar a informação, foi lançado recentemente mais um livro em Portugal sobre os biombos nanban, da autoria da Dra. Alexandra Curvelo. Este livro tem ilustrações belíssimas, fotografias de grande formato e qualidade, vindas das principais colecções de biombos deste tipo.